“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão.” (João 10.27-28)
Por muitos anos li este verso entendendo-o como uma condição para que eu fosse um ovelha de Cristo. Explico: sempre que o lia pensava: eu preciso ser capaz de ouvir, de obedecer a Jesus, do contrário não serei uma de suas ovelhas. Eu o li quase que sempre vendo o quanto eu precisaria fazer ou ser para encaixar-me no padrão de Cristo. E por saber que Seu padrão era elevado, era visitado por vários sentimentos. De desânimo a medo. Por fim, encontrava consolo e esperança na perspectiva de que, mesmo diante de minhas fraquezas, Ele seria gracioso comigo. Creio que a fé, conforme orientada pelo Evangelho de Cristo, envolve responsabilidades que são minhas. Inclui minha decisão de estar comprometido com os valores do Reino e envolve minha obediência. Mas estava colocando o carro à frente do boi!
Algo muito comum, por ser também muito mais lógico para nós: primeiro agimos como devemos, depois somos aceitos. Mas não é assim em nossa relação com Cristo. Veja o que Paulo disse: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos.” (Ef. 2.4-5) Sem a graça e o abraço de Cristo não há vida, estamos mortos. E portanto, nada podemos fazer por nós mesmos. A verdade é que tudo começa e termina com Deus agindo em nosso favor por meio de Cristo. Ele veio e consumou a nossa redenção. Nossa obediência, submissão, serviço e qualquer outra coisa que possamos fazer, fica no meio, entre o começo e o fim realizados por Cristo. E se não for dessa forma, não será de outra. Isso não se encaixa em nossa razoabilidade e não poderia. Não entendemos de fato a nossa perdição, como poderíamos entender a nossa salvação. Somos chamados a crer!
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz” é uma dádiva, não uma condição. Significa que, ao nos fazer Suas ovelhas, Jesus nos inclui na comunhão divina. No amor do Pai, na graça do Filho e no aperfeiçoamento do Espírito Santo. Passamos a ter o direito a um relacionamento que jamais poderíamos iniciar e, por mais que nos aperfeiçoássemos para merecê-lo, não conquistaríamos o direito de ter. E dependemos desse relacionamento, dessa comunhão divina, para vivermos como cristãos, para superarmos limitações e abandonarmos pecados. Em meio às desorientações próprias de ovelhas, o Bom Pastor nos faz ouvir a Sua voz e assim chama a nossa atenção para Si. Recebemos direção, consolo, conforto, repreensão. Como diz o antigo hino, “Que doce voz tem meu Senhor! Voz de amor, tão terna e graciosa.” E temos direito a ela, porque Deus nos amou. Se você crê, conforme diz o Evangelho, ouça. Pois o seu Pastor fala e em Sua voz há vida!