Os Velhinhos

Os Velhinhos

Aqui no bairro da Graça, onde moro, vejo sempre um casal de velhinhos, de mãos dadas. Cada vez que deparo com uma cena dessas, a humanidade ganha um ponto comigo. Esses dois velhos, eles… Ah, sei que não é correto chamar velhos de velhos, mas me recuso a usar termos como “melhor idade”, também não gosto de “terceira idade”.

Eles sorriam, enquanto caminhavam. Um deles deve ter dito algo engraçado. Eram bem velhinhos, moviam-se com alguma dificuldade, o passo pequeno e vacilante, ele um pouco melhor. Quantos anos teriam? E o mais importante: há quantos anos estariam juntos Cinquenta, talvez? Sessenta? Decerto que sim, entre eles pairava uma harmonia de décadas.

Mas é claro que nem sempre foi tudo tão leve e fácil. Houve problemas, como há em qualquer casal. Não duvido que, nos anos cálidos da juventude, tenham viajado. Ela, examinei bem, havia resquícios de uma beleza gloriosa no seu jeito de andar, mesmo que claudicante, e principalmente, no seu jeito de olhar. Olhos de uma tristeza misteriosa.

Quantas dores em 60 anos de convivência, quantos dias de incerteza. Já houve grosseria. Já trocaram palavras duras, mas se arrependeram. E, voltaram. Os dois velhinhos iam longe, enquanto eu pensava essas coisas. Continuavam de mãos dadas. Fiquei feliz por vê-los. Por ter certeza de que entre eles havia não apenas amor. Havia também tolerância, compreensão e perdão.

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