Os frágeis fios das Parcas

Os frágeis fios das ParcasTalvez já não nos entristeça mais, com o passar do tempo, as notícias de mortes de adolescentes vítimas da violência em nosso país. Talvez ainda possamos passar pela rua, ver crianças revirando latas de lixo em busca de alimentos e não nos sintamos culpados. Quem sabe, com a evolução da tecnologia e a expansão do mundo virtual não nos sintamos tão inexatos. Quem sabe um dia, deixaremos de ser tão insensivelmente inteligentes, para sermos tolamente humanos e assim, talvez não tenhamos mais capacidade tecnológica para dedicar uma conta de e-mail para cada ser humano do planeta, mas em compensação, talvez tenhamos o poder e a vontade de dar um prato de comida a cada criança no mundo, todos os dias.

As desigualdades existem e quem assume o poder de governar o povo tem que se chocar com ela, precisa se comover, precisa ter no peito a misericórdia (sentir como uma mãe), precisa andar pelas ruas e sentir o povo, rir e chorar com a sua gente, pois somos diferentes sim, mas não para sermos melhores ou piores, apenas para sermos uma das formas como a vida se realiza e se expressa.

Os gregos, dentre seus mitos, temiam as Parcas, também chamadas Moiras, as três irmãs deusas, que tinham por pai o Destino. Eram aquelas irmãs quem determinavam o durar de todos, tanto dos deuses quanto dos seres humanos. Nona, Décima e Morta eram as responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos.

Durante seu trabalho, as Parcas faziam uso da Roda da Fortuna, que era o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionavam o fio do indivíduo em sua parte mais elevada ou em sua parte mais indesejável, o fundo, explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. As três irmãs representavam para os gregos, uma lei que regia a vida dos deuses e dos homens, pois nem mesmo Zeus estava autorizado a transgredi-la, sob pena de interferir na harmonia cósmica. As Parcas, juntas controlavam o destino humano ao tecer um fio para cada homem na Terra. A primeira, Nona, fiava; a segunda, Décima media e enrolava o fio; a terceira, Morta, cortava-o, determinando a hora e a forma da morte de seu dono.

Quem sabe estejamos todos nós seres humanos realmente sob o julgo das três irmãs, onde Nona tece o fio para que Décima o meça e enrole. Talvez até possamos vislumbrar algo de justo nisso.

Não condeno o tecer, o fiar, o cortar do fio da vida. Abomino apenas que o caos social provocado por governantes irresponsáveis ofereça às irmãs matéria prima cada vez mais pobre, seres humanos cada vez mais excluídos dos bens da vida e, com isso, force, de forma irresistível, Morta a cortar, antecipadamente, os fios tão pobremente tecidos.

 

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