Teixeirenses evidenciam os problemas; secretária de Educação comenta a metodologia do Município
Desde março de 2020, com o início da pandemia do novo coronavírus, as aulas foram suspensas no município de Teixeira de Freitas – medida adotada no mundo todo, à época, a fim de conter o avanço da covid-19.
Entretanto, pouco mais de um ano se passou desde que a suspensão das aulas presenciais ocorreram. Em diversos lugares do mundo, inclusive, no Brasil, houve o retorno das aulas – nada dentro da normalidade de outrora, mas, no que está sendo chamado por especialistas de o novo normal.
Dentro desta nova perspectiva de rotina, ainda convivendo com o vírus e suas mazelas, criou-se um novo modelo de educação, o ensino remoto. Mas, se com a educação nos padrões usuais já haviam lacunas e disparidades gritantes, agigantadas pela divisão de classes e a má distribuição de renda no país, com a modalidade remota tudo tomou proporções maiores.
Vale salientar que, talvez, tudo isso sempre existiu tal qual está, o problema hoje é que o fato de um aluno da rede pública municipal precisar de suporte tecnológico para ver aula o coloca em uma situação de impedimento ao acesso à educação, enquanto aqueles estudantes da rede particular, em sua maioria, não enfrentam este tipo de problema específico. Possivelmente, todos, independentemente da classe social, compartilhem outras mazelas, como déficit de aprendizagem, baixa autoestima, ansiedade e tantos outros problemas que têm surgido e acometido as crianças devido à falta desta importante interação que ocorre no ambiente escolar.
Em Teixeira de Freitas a situação não é diferente da de muitos outros lugares onde as aulas presenciais seguem proibidas por meio de decretos. Na Bahia, o mais recente documento assinado pelo Governo do Estado mantém a liberação de aulas em municípios nos quais a ocupação de leitos de UTI Covid esteja em até 75%, desta forma, Teixeira e tantas outras cidades baianas permanecem impedidas de retornar com aulas, mesmo que no sistema híbrido, onde aulas presenciais, em rodízio, com aulas online, dariam um maior suporte aos estudantes e suas famílias.
Nossa Redação foi procurada por pais de alunos da rede pública municipal de Teixeira, que relataram a realidade de muitos: dificuldade para acompanhar os filhos nas tarefas escolares por motivo simples: trabalhar. Outro empecilho é o fato de que a maioria das famílias não dispõe de celulares ou computadores, tampouco acesso à internet que possibilite às crianças e adolescentes em idade escolar assistirem os vídeos relativos às aulas e, assim, terem conhecimento básico para arriscar responder as atividades – que têm prazo de entrega na instituição de ensino.
Conforme a secretária de Educação do Município, Regiane Chuaith Miranda, “no primeiro momento foi estabelecido que os coordenadores e professores iriam elaborar atividades de revisão dos conteúdos até então ministrados nas aulas presenciais e com temas explicativos para o momento que estávamos vivendo (atividades impressas). Estas atividades foram entregues nas unidades escolares pelos gestores às famílias, e devolvidas para correção após o retorno às aulas”.
Ela conta que, em um segundo momento, como as aulas não retornaram de forma presencial, foi elaborada a Segunda Fase do Plano Emergencial, que além das atividades impressas seriam necessárias algumas explicações sobre os conteúdos que seriam abordados.
“Desta forma, alguns profissionais gravaram vídeos ou baixaram da internet alguns que fossem compatíveis com a série do estudante e postados no Portal do Aluno, ou seja, uma plataforma que é utilizada pela educação para lançamentos dos dados dos alunos, assim cada família recebeu um login e senha para acesso ao Portal. Também foram criados grupos de WhatsApp por turma, para que os professores pudessem tirar as dúvidas dos alunos e das famílias, assim como manter um vínculo família/escola. Também nesta fase foi realizado um simulado que contemplasse todos os conteúdos trabalhados, servindo como uma forma de avaliação, pois os professores iriam corrigir e pontuá-los”, explicou.
Conforme a responsável pela pasta, o Núcleo de Assistência Social da Secretaria Municipal de Educação realiza um trabalho de Busca Ativa dos estudantes que seus responsáveis não comparecem para buscar as atividades na escola, com o objetivo de manter o vínculo.
“Em abril de 2021 iniciamos um novo ano letivo seguindo a mesma proposta de trabalho, com algumas orientações pedagógicas para cada fase de ensino, que proporcione uma melhor interação família/escola. Algumas unidades escolares fazem experimentos com aulas online, se reinventam com diagnósticos por chamada de vídeo e outras boas práticas”, conta a professora Regiane.
Quantos aos vídeos, embora a secretária esclareça que “não há obrigatoriedade dos vídeos para os estudantes, pois, estes são mais uma ferramenta pedagógica que o professor oferece para explicar o conteúdo”, os pais de alunos expõem uma situação que ocorre na maioria dos lares do Brasil: “A questão não é ser ou não obrigatório, o grande problema está: como o aluno vai responder às atividades sem estudar o conteúdo? Se ele não vê o vídeo, não saberá nada. Vendo o vídeo, a gente, quase sempre, ou não sabe explicar ou não tem tempo, porque a gente precisa trabalhar”, depoimento de um pai que prefere não se identificar.
O processo de ensino-aprendizagem acontece a partir da interação, da troca de saberes no ambiente escolar, que, neste caso, não pode haver por impedimento de decreto vigente. Entretanto, observa-se, pela perspectiva dos pais, que “já passou da hora do município pensar estratégias que permitam o retorno seguro das aulas, de maneira híbrida, para todos, ou, comece a fornecer tablets, locais com acesso a computadores e internet, para as crianças da rede municipal estudarem. Não é justo o que está acontecendo”, depoimento de uma mãe ao Sollo.
Nossa Redação quis saber da Secretaria de Educação como deve proceder os responsáveis sem acesso à internet ou tempo de acompanhar os filhos, tendo em vista que a grande maioria dos responsáveis por menores da rede pública trabalham, e fomos informados que “o plano de ação na área educacional de Teixeira de Freitas para o enfrentamento nesta pandemia apresenta estratégias de atender a todos os estudantes, quer tenham acesso a recursos tecnológicos ou não”.
Todavia, o Município concorda que a não democratização de acesso à internet ou suporte tecnológico vai prejudicar a muitos. “Certamente, teremos um prejuízo educacional muito grande em relação a aprovação do aluno, pois em 2020 todos foram aprovados conforme legislação educacional. A grande preocupação é o conhecimento a ser adquirido, que, no momento, já é sinalizado a importância de uma adequação curricular para ser trabalhada, o que é essencial para que o aluno adquira as competências necessárias não apenas em um ano, mas no decorrer de vários anos, e com certeza na busca de um investimento melhor na educação, principalmente na área tecnológica”, disse Regiane.
“Ressaltamos que para o ano letivo em curso a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, não tem medico esforços para desenvolver o melhor trabalho possível para aproximar os estudantes das atividades escolares. Por isso, toda e qualquer ação a ser tomada tem que partir do esforço para aumentar o envolvimento familiar no apoio aos estudos dos seus filhos”, concluiu.