A luz já ia sumindo. Á tarde, a fumaça da poluição enegrecia o sol. Pararam em pé ao ouvirem o barulho do helicóptero da polícia. Com as mãos esticadas, tateou o espaço vazio em direção à um lugar seguro, mas ainda que todos na favela sejam iguais a nós como criaturas mortais estão registrados como suspeitos de crimes e naquele momento o conceito de cidadão perde inteiramente a credibilidade por morar e estar numa comunidade pobre e existir ali traficantes armados.
A única lâmpada no poste da esquina, a brilhar solitária num halo luminoso, e adiante as armas dos policiais misturado com o barulho de tiros e então as mãos esquecidas coberta de sangue. Mortos nas ruelas da favela, estão desempregados, e, são parafusos insignificantes na máquina do estado.
Quando se mora em uma favela as pessoas nos enxergam menos e fica mais fácil matar. No entanto, quando se vê a miséria e a dor que ela traz, é preciso ser louco, cego ou covarde para se resignar e não pensar que talvez a infância pobre, a morte do pai numa briga, a mãe que acabou sumindo neste mundão não seja responsabilidade do próprio estado que mata.