Óculos

Óculos

Sem óculos, as coisas saem de foco. É como olhar através de um caleidoscópio; me deixava tonto — o quarto, a maneira como estava girando, a maneira como o mundo deixava de fazer qualquer sentido. Os olhos pulsavam através de ondas cerebrais. Abro os olhos, volto a fechá-los; tentava, mas não conseguia.

Abria mais os olhos, tentando absorver todos os detalhes do mundo real, mas minha miopia não permitia. A lembrança mais antiga que tenho é de um óculos com armação de tartaruga. Agora, tantos anos depois, ainda uso óculos, pois a cirurgia que fiz perdeu o efeito. Tal qual um cupim que rói a madeira, nossa visão vai sendo corroída se não fizermos nada. É impossível levar uma vida de qualidade superior sem uma boa visão.

Olhar para todos de uma maneira napoleônica. De 100 milhões de pessoas que precisam de óculos no Brasil, apenas 36 milhões têm esse privilégio. Para os pobres, a armação e as lentes são muito caras.

No mundo, 2,2 milhões de pessoas têm cegueira ou alguma deficiência visual; as mais atingidas são aquelas que moram em áreas periféricas ou rurais, e o número chega a ser quatro vezes maior do que o registrado em regiões mais ricas. Os dados são da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e, de acordo com a instituição, 80% desses casos poderiam ser evitados.

Penso em muitas regiões do mundo onde o pobre se senta à luz de velas na velha poltrona. Sobre a casa adormecida e a rua escura…

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