“Estava sendo levado para a porta do templo chamada Formosa um aleijado de nascença, que ali era colocado todos os dias para pedir esmolas aos que entravam no templo. Vendo que Pedro e João iam entrar no pátio do templo, pediu-lhes esmola.” (Atos 3.2-3)
Ser um aleijado nos tempos da igreja primitiva era ser alguém destinado a depender inteiramente do favor dos demais. Ser pedinte era uma condição natural e talvez inevitável para deficientes. Ainda hoje não é fácil, com certeza, especialmente para aqueles das camadas mais carentes da sociedade, mas é inigualavelmente melhor. Por outro lado, vivemos tempos em que a maldade, conforme afirmam as Escrituras (Mt 24.12), tem crescido e tornado tudo muito pior. Há os aproveitadores, os que mentem para tirar vantagem, os que se fazem necessitados, os que exploram a miséria fazendo-se miseráveis. Ajudar tornou-se complexo. O texto diz que o homem aleijado estava sendo levado para a porta do templo. Ele era levado para lá todos os dias. Por que? Porque espera-se um coração bondoso e misericordioso das pessoas que vão ao templo.
O templo é um lugar grandemente simbólico. Ele sinaliza a presença de Deus no imaginário das pessoas. Normalmente cremos mais em Deus quando estamos no templo do que quando estamos em casa. Mas há muitos que desprezam o templo, há os que não creem em Deus e para eles os templos levantam suspeitas. Por diversas razões ha os que olham para os templos com desconfiança. Alguns dizem que são lugares onde os bobos são enganados, onde os de boa fé sustentam a boa vida de enganadores pensando estarem servindo a Deus. Há muitos que desistiram dos templos, mas persistem crendo em Deus. Decepcionaram-se com a vida no templo. Preferem Deus sem o templo, por perceberem a falta dele lá dentro. O empobrecimento do templo talvez, em última análise, resulte da contradição dos frequentadores e trabalhadores do templo, ao viverem vazios de Deus enquanto declaram e celebram ser o templo a casa de Deus.
Mas com tudo e apesar de tudo isso o templo ainda é importante e pode cumprir muitas funções enriquecedoras para nossa vida. Indispensável é a igreja, mas o templo pode ser muito útil. Nele podemos cultivar a comunhão e nos organizarmos para servir como cristãos. Ele não é indispensável, mas nem por isso é sem importância. Mas seu valor dependerá grandemente de quem somos fora dele. No templo nossa fé pode ser fortalecida e nosso amor pode receber inspiração. Mas isso não pode ser uma experiência meramente litúrgica. Precisa reverberar na existência. Precisa ser lugar de encontro com pessoas e com Deus. O templo não deve distanciar, mas unir pessoas. Não deve realçar importâncias ou poderes individuais, especialmente do sacerdote, mas levar todos a serem mais humildes e dispostos a servir. Pois o Senhor do templo é amoroso e se fez servo. Que o templo onde cultuamos seja símbolo de vida, esperança e graça para muitos. E o será, se vivermos de verdade o Evangelho em que dizemos crer!