É cada pedaço ainda por viver. Os dias a frente. Espero que no meu futuro exista uma bolha cujo tempo seja mais desacelerado, onde os acontecimentos se desenrolem com a típica lentidão sazonal de um local de veraneio. Mas ainda bem que a escrita, este bálsamo que torna mais leve a existência, tem marcado a trilha do meu pensamento. Gosto de blocos de notas amarelos, especialmente as dez primeiras páginas mais ou menos, quando tudo parece fluente e promissor. O meu escritório esta cheio desses blocos de notas amarelos preenchidos pela metade, um hábito que reflete meu estado mental, sei que a frente tenho um destino desconhecido; O que acontecerá em 2022 nas eleições presidenciais? Como estará a pandemia? O clima no mundo? Atrás todo o passado.
Tenho a impressão que todas as histórias do universo já foram contadas, mas isso certamente não é verdade. Existe um suprimento infinito para qualquer um que tenha imaginação. Assisti este fim de semana o filme “Meu pai” com Anthony Hopkins. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, a desconexão com o alzheimer é contata pelo diretor Florian Zeller de forma magistral o resto de vida, para esta doença de alzheimer é a solidão no seu mundo particular. Aqui estou diante da minha vida. Os dias vão passando. O tempo me leva para longe do passado e de seu mundo. A sedação do passado. Nunca mais meu pai trabalhando. Todo ser humano, que procede dialeticamente, tem todos os pensamentos na cabeça. A única questão é: qual pensamento devo abandonar. Não está isento de perigo este jogo reflexivo do homem que procede dialeticamente. De repente oscilam, por entre meu cérebro, as mais paradoxais combinações: por exemplo, que a religião não enche todos os cálices. As sensações da vida sim. Uma flor. Sabemos o que é, como nasceu, e que morrerá. Mas nossa botânica não explica a frescura desse milagre; nem muito menos por que nos emociona. Mas a flor que de repente nasce. É uma aparição; algo que traz do fundo da terra uma inesperada palavra de candor. Parece dizer: eis-me aqui. É a vida e ela segue sempre.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.