O relógio de Deus

“Então Jesus lhes disse: Para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer tempo é certo.” (João 7.6)

Os irmãos de Jesus o estavam criticando e, de maneira irônica, disseram a ele que deveria ir para a Judeia e aproveitar a oportunidade da Festa dos Tabernáculos, em lugar de ficar na Galiléia, já que tinha intenção de ser famoso, de ser visto por muitos. A Judeia era lugar de grandes acontecimentos. A Galiléia era a região dos pobres, dos anônimos. E então Jesus lhes respondeu com o verso que lemos. E em sua resposta, como sempre, há algo para pensarmos. As respostas de Jesus, mesmo para questões mal intencionadas ou superficiais, são sempre cheias de sabedoria para nossa vida.

“Para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer tempo é certo.” Foi o que Jesus disse. O tempo certo a que Jesus se referia tinha a ver com os propósitos do Pai. Nos Evangelhos, em diversos momentos aparece a expressão “porque ainda não havia chegada a sua hora”. E chega o momento em que a narrativa indica que sua hora havia chegado. Um deles está em João 13, quando Jesus lava os pés dos discípulos.

Jesus viveu com seu relógio existencial acertado com o do Pai. As coisas não aconteciam aleatoriamente. Ele seguia a cronologia dos propósitos de Deus. E diz aos seus irmão que, ao contrário dele, o tempo deles era qualquer tempo, colocando em perspectiva a diferença entre viver guiado pelos propósitos de Deus e viver por si mesmo.

Podemos fazer o nosso próprio tempo, mas podemos nos alinhar mais com Deus. Em certo sentido, podemos ser unilateralmente responsáveis pelo que nos acontece e pelo momento em que tal coisa acontece, se orgulhosamente governamos nossa própria vida, sem nos orientar com Deus. Costumamos dizer que algo só acontece se chegou a nossa hora. Jesus está dizendo que nossa hora também chega em função de nossas escolhas.

O Evangelho nos propõe vivermos influenciados pelos propósitos de Deus. Isso não significa que a existência passa a representar um script onde apenas cumprimos o papel que Deus escreveu para nós. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Ele nos fez protagonistas em nossa história e não marionetes. Tirar de nós esse protagonismo significaria tirar de nós a imagem e semelhança que Ele mesmo nos deu. E a vida com Deus não pressupõe isso. Ao contrário, a vida com Deus potencializa isso. Com Deus somos livres como jamais seríamos sem Ele. Somos criadores neste mundo. De coisas e de histórias e as histórias são o que mais importa. Somos desenvolvedores do mundo e da vida uns dos outros.

Viver pela fé em Cristo, em comunhão com Deus, nos possibilita estar sob a influência do Espírito Santo e poder enfrentar o desafio de tomar decisões de modo que nossa vida se alinhe com os propósitos de Deus. E aí entra em cena a coisa certa, o tempo certo, o modo certo… tudo em relação aos propósitos divinos. Essa é nossa adoração! E isso é algo que cada um de nós precisa aprender a viver. Não é o pastor quem deve nos governar, dizer o que é certo ou errado, se está na hora ou não; somos alguém que precisamos, com sabedoria, diante de Deus, orientar nossas vidas. Em última instância a responsabilidade é de cada um de nós. É assim que amadureceremos e honraremos a Deus.

Que possamos aprender na vida a reconhecer os caminhos propostos pela vontade de Deus para nossa história. Que nossa vida se desenvolva na direção certa, no tempo certo, como fruto de nossa coragem para decidir e de nossa fé para ouvir o Espírito de Deus. Nosso mundo está em descompasso com Deus e nós também estaremos, se não escolhermos persistentemente voltar para Ele. Que, com responsabilidade e devoção, e apesar de jamais ser perfeita, possa nossa trajetória aqui ser orientada pelo relógio de Deus e influenciada por sua vontade. Que vivamos no compasso certo, no tempo certo.

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