O reino de Deus e os pecadores

“Ouvindo isso, Jesus lhes disse: ‘Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores’.” (Marcos 2.17)

O Evangelho de Marcos pode ser lido sob a perspectiva geográfica, ou seja, o trajeto de Jesus até Jerusalém onde foi crucificado. Veremos que Jesus permaneceu a maior parte do tempo na Galiléia, a parte mais pobre de Israel. A Galiléia estaria mais para o sertão nordestino do que para o interior de São Paulo, se quisermos fazer uma comparação. Estaria mais para os bairros pobres de nossas cidades, com seus bares, crimes, drogas, prostituição e sujeira, do que para as áreas nobres, com suas praças bonitas, restaurantes gourmet e ruas bem varridas e iluminadas. É na Galiléia que Jesus encontra e chama a maior parte de seus discípulos. Jesus dedicou-se aos que tinham suas misérias expostas, inegáveis. Buscou os (mais) doentes e os (claramente) pecadores, e não os (aparentemente) saudáveis e justos.

A miséria, a fome, a violência e o pecado tantas vezes escancarados nos lugares pobres, tantas outras permanecem ocultados e dissimulados nos lugares nobres. Os pecados que destroem a vida são os mesmo nesses dois lugares, mas não tem a mesma aparência. Não são praticados do mesmo jeito e nem produzem socialmente as mesmas consequências. Isso também é um sintoma do pecado. O pecado estrutural que segrega e castiga injustamente. Jesus veio e só encontrou pecadores, de vários tipos, em variadas condições. Mas todos pecadores. O pecado está na vida de todos nós. Há pecados na vida de ateus e há pecados na vida de religiosos devotos. Há pecados na vida dos que desprezam a igreja e a Bíblia e pecados nos que se dedicam a elas. Só há salvação para pecadores. Para os justos não há, pois não necessitam dela. Como também só há santificação possível para os pecadores, pois os justos já se veem santos e orgulham-se disso. Diante de Jesus, o desafio do passado e de hoje, é sermos capazes de nos perceber como os pecadores que Ele veio chamar.

O Reino de Deus é formado por aqueles a quem se dirige o chamado de Jesus e não por aqueles que se consideram dignos de serem convidados. É um Reino que se compõe de gente que não deveria estar lá e sabe disso! E não daqueles que se acham donos do lugar e capazes de controlar a porta que dá acesso à graça! É composto por quem não tem roupas para a festa do Reino e não por quem se orgulha dos próprios trajes! É o lugar dos improváveis e não dos aprovados. As doutrinas criadas por nós, os gabaritos de santidade que satisfazem a vaidade religiosa, jamais serão os critérios do Reino de Deus. Nele estarão as ovelhas que foram achadas, os filhos pródigos que voltaram, os publicanos e pecadores com quem Jesus sentava-se à mesa, oferecendo-lhes Seu amor, perdão e graça. Os mestres da lei e os fariseus estranhavam que Jesus estivesse comendo com pecadores, na casa de Levi. O Reino de Deus causa estranhamento. É preciso um banho na graça e no amor de Deus para saber como ele é por dentro!

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