Houve um tempo em que o coração servia para não me deixar morrer, em que apenas lhe atribuía essa função, a de sobreviver. Fechei-me tantas vezes quantas aquelas que me magoaram. Criei muros, barreiras e desculpas. Procurei defeitos, afastei e muitas vezes conduzi à saída. Muitas vezes fi-lo de forma inconsciente, porque simplesmente achava que não o merecia. Porque as pessoas têm a capacidade de nos fazer sentir insuficientes. Porque não era capaz de distinguir.
Hoje eu sei que não preciso da validação dos outros para ser quem sou. Hoje eu sei que não preciso pedir licença por existir. Já não me esforço para caber em lugar nenhum porque, convenhamos, podemos não saber onde é o nosso lugar, mas onde não é, sabemos sempre. E sim, sou dos que ignora sinais e depois se arrebento todo, mas que se levanta no momento a seguir. E nesse exato de tempo, vivo e guardo coisas bonitas.
Se há ilusão que não tenho é a de ser imortal, então eu não quero um coração que sirva “apenas” como órgão, quero um coração que escreva memórias e guarde retratos.
Início Poeta e Escritor Orlando Alves Gomes