O Real na Ilha da Fantasia

“Não se tapa o sol com peneira” (Ditado popular).

Ninguém pode negar a alegria e afetuosidade da gente brasileira, mesmo que se discorde dos seus excessos ingênuos, consequência, por vezes, da cultura e tradições reinantes. Agora mesmo, passados seis meses do ano de 2014, observa-se que no Brasil muito se cuidou de irrealidades e pouco se dedicou ao real que teima em bater às portas das autoridades, dos governantes em quaisquer dos seus níveis, exigindo soluções as mais imediatas, porque inúmeras as carências.

Os primeiros meses foram dedicados ao Reinado de Momo: escolas de samba, hedonismo a flor da pele, com sambas-enredo a cultuarem verdadeiros momentos de alegria geral, num plano de fantasias.

A seguir, em paralelo às festividades juninas, a Copa do Mundo, um outro segmento massivo de pão e circo tão a gosto da natureza festeira do brasileiro que reinou e ultrapassou os primeiro seis meses do ano, estendendo-se o “Reinado da Bola” ao segundo semestre, precisamente até a primeira quinzena de julho. Há quem diga que o Brasil, simplesmente, até então, parou !

De pouco tempo para cá, fala-se em “legado da Copa” referência justificadora dos bilhões e bilhões (falam em R$ 26 bilhões) investidos nas “arenas”, alguma reforma de aeroportos e na infraestrutura para a mobilidade urbana, supostamente necessários para que o País sediasse o Campeonato Mundial; discurso não acatado por aqueles que , mesmo amantes do futebol, entendem ser a Educação, a Saúde e a Segurança prioridades das prioridades – o real acima da fantasia – o bem estar do amanhã numa perspectiva dos recursos voltados ao fomento do desenvolvimento integrado.

Infelizmente ou, quem sabe, até felizmente, quando o discurso é controverso é preciso que se coloquem “os pingos nos ís”, a fim de que haja uma compreensão mais própria e geral, para que o povo possa entender melhor, afinal é isto que a Educação recomenda: possibilitar a reflexão e a análise consequente, compreender os fatos (educar-se) e, a partir daí, usar de forma soberana sua cidadania.

Ao se falar em legado, segundo o ordenamento jurídico vigente, imagina-se de imediato a idéia de sucessão ou de doação e que se relativiza a uma coisa da qual se abre mão para outrem; é transferência, a exemplo do que se consta em testamento de pai (testador) para filho (legatário) sob título de legado. Até aqui, se desconhece qualquer ação de transferência, doação ou legado relativo às bilionárias “arenas”, mas, por outro lado, se reconhece o sofrimento atual e futuro dos que vivem na Ilha da Fantasia, exatamente por não terem sido alertados que a Educação, a Saúde e a Segurança seriam postas de lado, o Real cedendo espaço à Fantasia. Assim, para quem usando o termo tentou qualificar a iniciativa, a emenda saiu pior que o soneto, pois, mesmo como metáfora, é de pobreza absoluta e nada acrescenta ao discurso pretensamente justificador.

 

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