O Processo é um romance do escritor checo Franz Kafka, que conta a história de Josef K., que acorda certa manhã, e é processado e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não especificado. No Brasil, se você recebe uma acusação criminal, é quase como na idade média, tem que se defender, mesmo que seja inocente, não existe uma mediação antes, ou triagem. É preciso sacrificar tempo e dinheiro. E a pessoa pobre, em suas extremas carências, tem dificuldades de exercer cidadania. Sua autonomia de decisão é escassa e tênues são suas vontades. Em consequência, submete-se, como ente passivo, as garras da justiça. Posso dizer hoje, que nesta sociedade do conhecimento em que passamos a viver, desde os anos setenta, o mundo deixou de ser dividido entre pobres e ricos para ser distinguido entre pessoas que sabem e as que não sabem, então as que não sabem se defender são tragadas pelo sistema.
Acusados de crimes de forma geral devem a qualquer pretexto serem punidos. Como se a simples acusação criminal fosse suficiente para condenar alguém à prisão, uma acusação pode ser justa, mas também pode ser injusta. O crime tem várias faces, são vários tipos de delito, alguns mais leves, outros mais graves, mas, seja, como for, não é algo que possa se distanciar da vida cotidiana das pessoas e da sociedade moderna na totalidade. Na verdade, todos nós estamos sujeitos de serem acusados por algo que não praticamos e acusação criminal não é diferente, pois pode ocorrer de forma voluntária ou involuntária, e são vários os exemplos desta natureza, desde um crime involuntário de trânsito, um homicídio praticado em legítima defesa, uma sonegação fiscal por erro de cálculo, etc.
Portanto, qualquer cidadão jamais poderá dizer que nunca praticará um crime. Como se sabe, uma sociedade não se fortalece à custa da iniquidade de outrem, muito menos praticando injustiças, desde os tempos mais remotos e até bíblicos já se dizia “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados”.
A sociedade jamais deve se distanciar destes ensinamentos, pois. Acusações criminais inventadas, inverídicas e, sobretudo, injustas estão cada vez mais presentes no cotidiano dos brasileiros e os anseios por punições a qualquer custo enfraquece a democracia e via de consequência por certo levará o inocente a prisão. Não precisamos condenar inocentes, pois o mais inocente de todos já foi condenado por nós que se chama “Jesus Cristo”. É preciso, no entanto, que a própria sociedade, por intermédio de cada cidadão, para se opor aos excessos do sistema, repense a hoje sedimentada cultura punitiva, e entenda que o crime não é “dos outros”, mas, como uma possibilidade, é de todos nós.