“O fariseu, em pé, orava no íntimo: Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano.” (Lucas 18.11)
O orgulho não precisa ser algo declarado para nos fazer mal. Pode ser algo que silenciosamente habita o nosso íntimo, onde ninguém o vê. Nossas palavras podem disfarça-lo, mas jamais eliminarão seus efeitos. Ele nunca nos fará bem pois é fruto de engano, de contas mal feitas. No caso do fariseu da parábola de Jesus o orgulho direcionou até mesmo sua oração, aparentemente piedosa ao atribuir a Deus a razão de não estar ali sob o peso da culpa. Mas logo revelou-se carnal, fazendo comparações e desprezando os outros. Contrariando o que Paulo ensinaria mais tarde: “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1Co 10.12).
O fariseu acreditava ser alguém superior aos demais. Embora tivesse dito “graças te dou ó Deus”, atribuía sua firmeza e retidão a si mesmo, revelando desconhecer o próprio coração e as próprias fraquezas. Mais que isso e pior: ele desconhecia o Deus com quem estava falando. Iludido com sua retidão ignorou que orar a Deus é uma graça – favor imerecido. Por mais puro que sejamos jamais nossa comunhão com Deus será fruto de nossa justiça. Colocados diante de Deus (que verdadeiramente é Santo), nossos melhores atos são como um pano irremediavelmente sujo, ao ponto de sujar ainda mais qualquer coisa que tentássemos limpar com ele (Is 64.6). Mas nosso orgulho pode nos iludir, como fez com o fariseu.
A religião pressupõe um padrão ético – o que é bom – mas nosso orgulho pode esse padrão ético em um critério para separar bons e maus. Devido ao orgulho, os “bons” facilmente tornam-se insensíveis, frios e presunçosos; iludimos sobre si mesmos e cruéis com os outros. Então se estabelece a cultura do “nós-eles”. “Nós” indica os de dentro, autorizados a julgar e condenar; “eles”, os de fora, que devem conhecer a condenação para serem levados ao arrependimento. Assim, acredita-se, “eles” virão a “nós” para serem como “nós”. Seria este o caminho do evangelho? Não. Paulo compreendeu o evangelho e declarou: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior.” (1Tm 1.15)