“Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a desgraça; eu, o Senhor, faço todas essas coisas.” (Isaías 45.7)
Deus revelou-se a nós. E encontramos essa revelação de forma espetacular nas Escrituras. Ela nos oferta inúmeras imagens de Deus, que são sempre insuficientes e complementares, pois Deus não poderia ser revelado de forma monolítica. A grandeza de Deus exige polifonia (muitas vozes), policromia (muitas cores), polimorfia (muitas formas), para dizer o mínimo. Se queremos discernir, captar em alguma medida as verdades sobre Deus nas Escrituras, precisamos ser capazes de lidar com essa diversidade, interpretando cada imagem tendo em mente a outra, para que elas se equilibrem e não caiamos no erro de criar um ídolo, um falso deus. E há muitos por aí.
Quando isolamos uma imagem da outra, elas entram em conflito. O Deus de paz conflita com Deus Senhor do Exércitos. O Deus que convida conflita com o Deus que se distancia. O Deus que dá liberdade conflita com o Deus que tira a liberdade. O Deus que cura conflita com o Deus que deixa morrer. O Deus que tudo pode conflita com o Deus que nada faz. Veja o verso de hoje. Se quisermos compreende-lo precisaremos lê-lo influenciados pelas outras imagens de Deus e pelo contexto que as envolvem.
É assim que poderemos compreender adequadamente este verso. Ele está afirmando a grandeza e a soberania de Deus a pessoas de um mundo em que estavam expostas a um sem número de deuses. É como se Deus estivesse dizendo: “Eu sou o Deus de tudo. Não é necessário o deus da noite e o Deus do dia, o deus da colheita, o Deus dos ventos, das planícies, dos montes, do mar e da terra seca. Eu sou o Deus sobre todos os deuses. O autor de tudo. Não é preciso temer outros deuses pois Eu Sou e não eles.”
Porque não vivemos num mundo politeísta, ignoramos este aspecto e pensamos neste texto em outras categorias. E algumas vezes fazer isso nos leva a equívocos sobre Deus. Então, ler um texto bíblico com os demais em mente é indispensável. Ler a Bíblia com Jesus em mente é indispensável. E, claro, ler as Escrituras sob o cuidado e orientação do Espírito Santo é indispensável.
Pelo menos em parte isso explica a enorme quantidade de compreensões infantis sobre Deus. Dizemos coisas como “Deus está no controle” e o fazemos isso em termos inapropriados, como se cada acontecimento passasse pelo escrutínio divino. Como se Ele tivesse um propósito com cada um deles! E que, pelo menos por permissão, se seria também responsável pelos atos humanos. Imagine o lugar de Deus na morte do menino Henry, covardemente assassinado, ao que tudo indica pelo padrasto com, no mínimo, a omissão da mãe, na cidade do Rio de Janeiro. Qual é a responsabilidade de Deus nisso? Nenhuma! Ele não é co-autor e nem controlador da vida humana, das atitudes humanas!
Pense na pandemia! Há quem diga que se trata de um juízo de Deus contra os pecadores (normalmente outros pecadores que não eles próprios). O vírus então teria sido enviado por Deus e não seria o resultado de diversos aspectos em desequilíbrio no tipo de vida que vivemos neste planeta.
O mundo cristão carece de uma melhor leitura da Escrituras! É preciso considerar como a lemos e a fé que essa leitura alimenta em nós. Muitos parecem entregar a terceiros a responsabilidade sobre o que creem. Precisamos sim uns dos outros, mas por fim, a responsabilidade é nossa. Quanto mais honestamente, quanto mais lúcidos formos para lidar com a vida, mais facilmente perceberemos os desvios, a impropriedade, os enganos sobre as interpretações bíblicas. Veremos quando a perspectiva bíblica não fizer sentido! Sobretudo precisamos do Espírito Santo. Ele é quem nos guia em toda verdade, se quisermos ser guiados. Mas tenha cuidado, pois não é o que tem acontecido há muito. E a responsabilidade é de cada um de nós.