Os molares ficam no fundo da boca, sendo também quatro no arco superior e quatro no inferior. São utilizados para triturar e mastigar os alimentos, correspondendo ao último processo pelo qual o alimento passa antes de ser engolido. Perdi meu primeiro molar agora, aos sessenta e sete anos.
Notei algo na boca, uma espécie de osso duro e liso que se chocara contra meus dentes. Cuspi no prato a comida meio mastigada e meti os dedos entre os grãos-de-bico desmanchados para pegá-lo. Era um molar interno, com a coroa e a raiz intactas, sem vestígio de cáries nem rupturas. Apalpei a gengiva com a língua até chegar ao fundo da boca. No lugar que estivera doendo por todos aqueles dias, agora só havia um buraco.
Nesta noite, mal dormi; não conseguia parar de passar a língua pelo buraco que o molar deixou. A carne da gengiva estava mole, ainda não tinha cicatrizado. Toquei com os dedos todos os dentes um por um para comprovar se balançavam, pensando que, quando eu despertasse, todos teriam caído e eu precisaria cuspi-los no banheiro. Estavam todos duros e bons. Então, tive que ir ao dentista fazer um implante. Algo trabalhoso, o implante é dividido em cinco etapas: exames e diagnóstico; cirurgia; pós-operatório e manutenção. Com a idade, aparecem sempre as surpresas. Agora, dizer que é a melhor idade talvez seja para não estar no cemitério. Aí pode ser.