O ataque à paz

O mundo já foi cordial, nenhum ato violento tinha peso global.

O atentado de Saravejo, que vitimou o arquiduque do império austro-húngaro, na Primeira Guerra Mundial, se naquela época descesse de um táxi a noite, não seria impactado pelo medo do terrorismo, e só saberia do fato pelos jornais, em pequenas doses…

O ataque ao Irã pelos Estados Unidos mostra a nossa impotência, somos reféns do mundo conectado e fluído.

Ficamos imóveis diante da rapidez dos fatos, pela torrente interminável de notícias e suas interpretações de diferentes fontes lidas com dois olhos tristes, um deles vazado todo dia com pedradas de assassinato, corrupção, roubo, mortes etc.

Queremos nos sentir seguros mas a chuva de notícias negativas só trás mais insegurança. Não é apenas quando a vida pessoal é atropelada pelo mundo exterior, mas também quando a vertigem noticiosa engole e regurgita as nossas histórias e percepções cotidianas.

O mundo perdeu a medida de entender a existência.

Agora ouço um cachorro latir na noite escura, que preenche o meu estado de espírito desprovido de imaginação que se recusa a sonhar, imaginar ou conjecturar a respeito de qualquer situação real, com exceção do presente, que é este latido, o resto cai num vácuo árido, teórico.

Minhas tentativas de entender o planeta que vivo estão cada vez mais solitárias, já que meu pensamento é uma gota no oceano de tantas formas de interpretação dos fatos.

Tudo mudou muito desde a Primeira Guerra Mundial. A morte de Qasem Soleimani no Irã foi acionada remotamente, hoje já controlamos muitas doenças e a expectativa de vida quase que dobrou.

Mas a vida é mais solitária hoje. Quando viajo, sinto
a estraneidade em relação a forma tão rápida de tudo, a maneira como um novo lugar se revela instantaneamente e sem fingimento, no passado, no deslocamento, pernoitava-se para o descanso, uma viagem ao Rio de Janeiro eram sete dias, dormia-se em acampamentos, com conversas, sem pressa.

O ar tinha um peso diferente, com menos ansiedade. O mesmo sol nasce, mas parece um pouco diferente do que no século passado.

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