A pluma de fumaça que encobre o Brasil chegou ao Rio Grande do Sul, São Paulo e sul da Bahia, explica Karla Longo, especialista em química da atmosfera do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Segundo medições dos satélites observadas por ela, o país chegou a ficar, em média, 60% coberto por fumaça nos meses de agosto e setembro – até 80% em alguns dias desta semana.
A situação deve melhorar no Sudeste até o fim do mês, mas a Amazônia não terá alívio em breve, com estiagem prevista até outubro. A seca intensa ajudou a espalhar e prolongar a nuvem poluente. Essa camada de aerossol já é comum às populações do Norte e Centro-Oeste, sendo observada desde o início do monitoramento por satélite do Inpe, em 1998. O diferencial deste ano é a mudança no comportamento da fumaça, que agora atinge mais regiões do Brasil.
“O calor intenso que vivemos nesse inverno fez com que a forma da pluma passasse com mais frequência e intensidade pelas regiões Sudeste e Sul. Em menor escala, ela também passou por Goiás, Minas Gerais e até o sul da Bahia, eventos que normalmente não aconteciam”, diz Longo.
A pesquisadora alerta que, com estações mais quentes e secas, é possível que o território brasileiro fique cada vez mais encoberto, com o avanço das mudanças climáticas. Nesta quinta (26), pela primeira vez desde o início da estação seca, a nuvem de fumaça se conectou com os corredores de umidade da Amazônia, causando instabilidades na atmosfera desde o sul do Brasil até o noroeste do Amazonas.
Essas instabilidades produzem chuvas isoladas, que devem durar pelos próximos dias. O evento também está ligado à chuva preta, resultado da mistura da água com a fuligem carregada pela fumaça.
“Para ter queimada, são necessários dois fatores: ignição e propagação. No Brasil, a ignição é humana, e prever comportamento é bem difícil. A região central do país ainda vai permanecer seca por pelo menos mais um mês”, afirma Longo, ao ser questionada até quando irá durar a pluma de fumaça. “Vamos supor que todo mundo parasse de tacar fogo, a fumaça ainda durará cerca de uma semana.”
Este ano, a fumaça tem circulado mais intensamente. Por trás desse fenômeno está o sistema Alta Subtropical do Atlântico Sul (Asas), uma área de alta pressão que impede a formação de nuvens e aumenta as temperaturas. Esse ano, os efeitos do Asas foram mais intensos, com temperaturas acima da média em todo o Brasil e menos chuva.
Fonte: Bahia.ba