“Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.” (Romanos 12.21)
Chegamos ao último verso de Romanos 12. Para mim, ele é uma síntese de todo ensino deste capítulo que tem nos inspirado a pensar numa liturgia para a vida. O verso de hoje nos diz para não cedermos ao mal. O mal está sempre por perto. Ele vem de fora e de dentro. Seja como for, nosso dever é não nos deixar vencer por ele. Creio que você saiba que isso não é tão fácil quanto gostaríamos. O mal que nos vence é convincente. Ele sabe nos convencer de que ceder não será tão ruim assim. Mesmo sabendo muito sobre o quanto é desaconselhável ceder a ele, podemos acabar cedendo. Ele é persistente.
Todavia, também está dito que nessa luta não estamos sozinhos. O apóstolo Paulo disse aos cristãos de Corinto que Deus estaria com eles oferecendo-lhes a possibilidade de se sairem bem no embate com o mal: “Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar.” (1 Co 10.13) Fica claro que Deus nos socorre. Por um lado isso nos dá esperança e por outro torna ainda mais lamentável nossas quedas. E podemos entender quanta indignidade nos habita. De fato, não somos aptos a julgar uns aos outros.
Não ceder ao mal exige mais que apenas saber o que é certo e o que é errado. Exige o que o Evangelho sempre nos pede, o que se constitui na mais elevada missão cristã: exige que amemos a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. A motivação por excelência para superarmos o mal e escolhermos o bem é o amor. Alguns parecem se sair muito bem tendo como motivação o medo. Por medo de perderem a salvação ou de que Deus não os proteja ou deixe de abençoa-los, dizem não ao mal. Isso é bom, mas há um problema: não há transformação. Trata-se apenas de uma contenção e produz efeitos colaterais como intolerância, arrogância e atitude julgadora.
O caminho adequado para superarmos o mal é o amor. “O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei.” (Rm 13.10) O amor nos inspira ao bem e fortalece-nos para resistir ao mal. Amar nos transforma. Tendo o amor como motivação, não somos habitados pelos efeitos colaterais do medo. Não perdemos a motivação diante de dores ou perdas que nos chegam, apesar de fazermos o bem. Pois a razão não será a expectativa de uma recompensa ou o medo de um castigo, mas o compromisso com o amor a Deus e às pessoas.
Este é um verso para se guardar na memória. Ele é importante para cada dia de nossas vidas. Não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem é um resumo precioso para a liturgia da vida. Algumas vezes será mais fácil que outras, mas jamais devemos desistir desse compromisso. Já sabemos que podemos contar com Deus. Que contemos uns com os outros. Que o mal tenha cada vez menos espaço em nossa biografia e que o bem se multiplique em palavras, atitudes, posturas, ações e reações. Essa é a nossa liturgia. Esse é o nosso culto.