Ninguém quer ser antigo.
Mas minha ideia é que hoje sou.
Eu tenho uma vida rica de acontecimentos,rica de saúde, rica de plenitude. Como se jovem fosse, neste século vinte um. Sou acima de tudo complexo, como qualquer indivíduo. Vivo uma linha por dia.
Quando penso no passado,lembro, o primeiro beijo, quando entrei na faculdade, formei, casei, o primeiro filho, tudo que foi conquista.
A vida é minha, meu próprio tempo, para eu fazer o que quiser.
Hoje meu rosto tem barba. Neste momento, o sol irrompeu das nuvens, atravessou o vidro da janela do meu escritório e desenhou um prisma colorido no chão.
O momento é tudo o que temos, está tarde, está escrita agora, este momento. Existe a irrevogabilidade de tudo. Só Deus é exceção. Ajudar, resolver e atender veio a minha mente, uma taça de vinho também.
O Natal vem com uma leve sensação de desamparo, pelo sentimento de perda.
Muitas pessoas essências a minha vida desapareceram.
Como é possível abrir mão do que foi essencial sem uma leve nuvem de tristeza? Como se aqueles momentos do passado fossem imutáveis. Interessa poluir a alma? Não!
Mas me comovo com meu coração que treme como um pequeno pássaro.
Neste dia 23 de dezembro, antevéspera do Natal, atribuímos as virtudes aos obstáculos que superamos, às tribulações de que escapamos e aos triunfos pelos quais lutamos.
O que é a vida senão isto?
Pessoas que, no fundo, são inexoravelmente estranhas umas as outras,que vivem separadas por uma neblina de sentimentos, muitas vezes egoístas e que, porque é Natal, tem a aparência frágil de solidariedade, mas ao passar a data, a neblina repõe tudo como estava.
Você pode enterrar seus pensamentos e sentimentos bem no fundo do seu ser, armar-se de um sorriso e agir de modo agradável. Depois poderá na ceia de Natal juntar-se com outros que também se escondem dentro de si mesmo.
Cada um pode colocar -se a uma distância cômoda e segura dos outros e jogar palavras sem significado. Há quem chame isto de conversa,mas eu chamo de perda de tempo.
Apenas lançar as palavras que resvalam nas pessoas é uma forma superficial de viver o Natal.
O importante seria ver a singularidade de cada um, como pessoa, conhecer sua história a fundo com as feridas e as estrelas da vida, colocar os pensamentos e sentimentos dele acima dos seus.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.