“Tu me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim. Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance, é tão elevado que não o posso atingir.” (Salmos 139.5-6)
Jesus estava vivendo o agudo momento de seu julgamento e sabia que o final seria a crucificação. Ele havia orado previamente: “Se possível, passa de mim este cálice. Todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Lc 22.42). E o cálice não foi afastado. Chegou o momento em que Jesus estava diante de Pilatos que o interrogava. Mas o Mestre nada respondeu. Indignado, o político romano disse: “Você se nega a falar comigo? Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo?” Ao que Jesus respondeu: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.10-11). Em outras palavras, “Pilatos, eu não estou em suas mãos. Estou nas Mãos do Pai. Pois só estou nas suas porque o Pai permitiu que assim fosse!”.
O salmista parece ter tido essa percepção: “Minha vida está nas Mãos de Deus! Ele me envolveu com Sua presença. Sua Mão está sobre mim!” Viver sob esta convicção faz toda a diferença. Fortalecer a fé no cuidado de Deus, de tal forma que nos sintamos seguros por maior que seja o risco, o desafio, por pior que seja a notícia, o resultado do exame, por mais duro que sejam os fatos, é ser uma pessoa completamente livre e pronta para a vida. Para chegarmos lá precisamos nos exercitar nas pequenas coisas, nos pequenos desafios. Precisamos enfrentar os momentos indesejáveis crendo no amor e cuidado de Deus. E assim crescer na cosmovisão revolucionária da fé: a vida não é o que parece ser; estamos seguros nas Mãos de Deus, ainda que a vida diga o contrário!
Alguns diriam que tal perspectiva é a atitude de quem deseja negar a realidade, de quem está em fuga da vida. A parte da fé em Cristo, da fé no Deus que nos amou de tal maneira (Jo 3.16) e no Espírito que nos conduz a toda verdade (Jo 16.13), parece ser isso mesmo. Mas faz todo sentido e constitui-se sabedoria que supera toda a inteligência humana, se a fé entra na conta. O salmista escolheu o caminho da fé e nós somos convidados a segui-lo. E ao fazê-lo veremos que se trata de muito mais do que havíamos pensado. Ainda sentiremos medo, seremos visitados por dúvidas, mas na medida em que escolhermos crer, pouco a pouco saberemos que estamos nas Mãos de Deus, e de mais ninguém. E assim, mesmo que o pior de confirme creia: Deus ainda está cuidando!