“Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado.” (1 Pedro 1.7)
Há muito fé por aí. Há muitas pessoas que declaram ser possuidoras de uma grande fé. O escritor de Hebreus definiu fé como a certeza do que esperamos e a prova do que não vemos (Hb 11.1). Portanto, é uma certeza que nos mantém firmes diante da ausência do que ainda está por vir e não, necessariamente, um poder que nos leva a conseguir o que queremos. Mas, sejamos sinceros, temos feito da fé muito mais este poder que aquela certeza. Por isso, a fé sobrevive e é celebrada enquanto “funciona”, na medida em que tudo segue como desejamos. Mas, e quando as coisas se quebram, quando o silêncio é a resposta e Deus nos decepciona com um sonoro “não”, contradizendo nosso esforço de fé que pede firmemente por um “sim”?
Pedro trata a fé como certeza e não como poder. A fé que nos encaminha para uma esperança viva e não para um conquista grandiosa. O caminho da esperança viva não é livre de dores e angustias. Há tristezas, lutas, sobressaltos e perdas. E somos desafiados a permanecer firmes diante de tudo isso, pela fé. Mas muitas vezes o que se vê é o sofrimento determinando a morte da fé. Pedro diz que está aí uma validação do tipo de fé que nos habita. Os desencontros, silêncios divinos, confusões, perdas, aflições, angustias e tudo mais que gostaríamos de jamais precisar encarar, funcionam como um princípio ativo que revela o tipo de fé que temos. A fé do poder normalmente não passa no teste! Já a fé da certeza na esperança, da confiança no amor de Deus, costuma sair fortalecida e seu possuidor, amadurecido.
Gilberto Gil popularizou a ideia de “andar com fé”. Ele escreveu: “andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar”. E falou de ter fé em qualquer coisa, com tanto que se tenha. Não é essa a fé do Evangelho de Cristo. Pois ela não é um caminho para a realização de nossa vontade. É um jeito de vivermos submetendo-nos à vontade de Deus. Aprendendo que é dele a última palavra e que não nos perderemos na vida se vivemos confiando nele. Não é uma fé que livra da dor, mas que sustenta quando ela chega e fica. Que nos leva a uma vitória que olhos humanos não são capazes de ver. Que nos coloca de pé, embora muitos só consigam nos ver prostrados. Que seja essa a nossa fé. E que esta vida, com tudo que a constitui, apenas confirme a sua genuinidade, para louvor, honra e glória quando Cristo for revelado e as ilusões desaparecerem.
ucs