A vida para continuar viva precisa “deixar de ser” o que era, com as multidões dos carnavais, dos comícios, das aglomerações, dos estádios cheios, para ” vir a ser” outra coisa. Já existia a solidão dos oceanos.
Andei em praias totalmente desertas, só ouvindo o som das ondas e a imensidão do azul do céu.
Lembra a música de Vinicius de Moraes.
“E com um olhar esquecido no encontro de céu e mar bem devagar ir sentindo a terra toda rodar”. Com o confinamento temos a solidão urbana.
Estamos entre o mundo puro e infinito de sempre dos oceanos e o mundo precário e quadriculado de todo dia desta pandemia. Este é o mundo que nos prende; estamos amarrados a ele não sabendo até quando.
Mas, para viver é preciso que se espere algo de bom. Não esperar nada é não ter esperança.
Acho que o mundo lentamente se enriquece em dons de espírito, tanto pelo choque do sofrimento de tantas vidas, como pela falta de independência da obrigação momentânea de juntar dinheiro e estar mais voltado para si, para o seu interior, como se andasse numa praia vazia.
Com este banimento da avidez de consumo estamos nos libertando da escravidão da crueldade da urgência de viver.
Precisamos das palavras ditas pela alma neste momento para existirem mudanças de ordem moral e não apenas matérias.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.