Mortos

Mortos

Não gosto de ir em velório, acho que ninguém gosta, é uma obrigação, um compromisso social. O morto fica ali deitado, como sempre ficam deitados os mortos, de modo, particularmente, pesado, à maneira dos mortos, afogado no estofamento do caixão, as pernas e os braços rijos, a cabeça reclinada para sempre sobre um travesseiro, e exibe, como sempre fazem os mortos, sua testa amarela, cor de cera, as têmporas calvas e afundadas, e o nariz protuberante, que parece comprimir o lábio superior.

No rosto há, na maioria, a expressão de que aquilo que era preciso fazer já tinha sido feito, e fora feito de forma correta. Às vezes na fisionomia existe uma repreensão ou uma advertência dirigida aos vivos. É triste ver uma vida humana que apagar sua luz onde desaparece para sempre qualquer possibilidade de atração ou interação. As relações que se davam de forma espontânea apagadas para sempre, e agora só a frieza da morte.

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