Vamos falar um pouco sobre modernismo no Brasil e também sobre sua adoção e presença na literatura baiana? Um ponto de partida pode ser as intersecções entre romance, filosofia e história: um estado de letra, ciência e arte no pensamento e obra de TAURINO ARAÚJO. Seja a narrativa reconhecida pela forma como a epistemologia, a juridicidade e a historiografia “são processadas” (CAIO GAGLIARDI) através do próprio “texto, seus ‘receptores’ e dos ‘receptores’ [tão diversificados] entre si” (HANS ROBERT JAUSS). E concluiremos, com os irmãos GONCOURT: “[em TAURINO ARAÚJO,] o romance é a história que poderia ter acontecido” e a sua “História é um romance que [efetivamente] aconteceu”.
Consagração do canônico brasileiro e do anticanônico da ruptura; Gorki, Leão XIII, Tolstoi, Voltaire, Llosa, Torga, Antonio Torres, Victor Hugo, Orlando Gomes, Zola, Allende com Eva Luna e a luta contra a desigualdade, paixão e sentimentos no avançar do tempo e na persistência da social injustiça, histórias que se repetem e encontram visão similar em García Márquez em Cem Anos de Solidão, Capinam e Castro Alves: “atualização de presente, passado e futuro” proposta por Eduardo Boaventura em Taurino Araújo e a Semana de Arte Moderna.
No ensaio por mim submetido à Academia de Letras da Bahia, Yuri Ubaldino Rocha Soares afirma com fulcro em Denise Mallmann Vallerius e nos irmãos Goncourt: “após a contribuição da Estética da Recepção e do Pós-Estruturalismo, o literário passa a ser aquilo que o leitor [assim o] considera” ou “[em Taurino Araújo] o romance é a história que poderia ter acontecido” e a sua “História é um romance que [efetivamente] aconteceu”.
Dissertação sobre a saga bem-sucedida que finalmente nos permite ser enxergados pelos “pelos critérios da diferença e da autenticidade” (Oswald de Andrade), através do envolvimento de seus leitores com o destino de todos nós, os personagens por ele retratados, “os receptores também protagonistas” dessa leitura que insere a desigualdade entre os conceitos jurídicos fundamentais, com evidente influência socioliterária mundial na Teoria Geral do Direito e em outras 19 áreas do conhecimento, considerada uma Epistemologia genuinamente Brasileira por Pedro Lino de Carvalho Jr., o auge historiográfico de um inédito direito comparado para Ana Maria Dias ou a quarta onda interpretativa, no dizer de Fátima Di Gregorio.
Na prática, Taurino Araújo retoma para si função das ciências sociais e da filosofia antes entregue à literatura (Antônio Cândido) qual fosse a de suprir lacuna histórico-cultural e identitária. Trata-se de gênero literário provocador de “envolvimento apaixonado dos leitores com o destino dos personagens [de carne e osso, através] de processos emocionais e psicológicos” que em geral apontam para autoevidência dos Direitos Humanos, segundo Lynn Hunt e, no particular da Hermenêutica Desigualdade, à autoevidência do direito à diferença, lembra Mario Nelson Carvalho, concretizadas “as possibilidades individuais e coletivas de superação”.
Desde Aristóteles, há mais saber e conhecimento nos universais da arte do que nos particulares da técnica (enquanto a mera experiência se refere apenas ao quê, arte é conhecimento da causa) decorrente de uma genial sacada, diria Manuela Motta: “em Taurino Araújo, a intuição ou ‘pressentimento’ do todo (Jean Grondin) espetacularmente ocorre sem prejuízo da concepção do particular que, aqui, coincidirá com o próprio desigual”.
Por Antônio Menezes Filho Presidente do Instituto dos Advogados da Bahia- IAB, Ouvidor-Geral da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB-BA, vice-presidente para a Região Nordeste da ABRAT – Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas, Diretor Suplente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia- IGHB. E-mail: [email protected]