Minhas Escolhas

Minhas Escolhas

Durante toda a minha vida, fui seguindo sem direção marcada, no Brasil e na justiça do trabalho. Deveria ter privilegiado aquilo que poderia me fazer feliz, me realizar como ser humano. Mas, por ironia do destino, a pandemia—uma tragédia para todos nós—mostrou a direção que deveria seguir. Ao escrever todo dia, concluí meu primeiro livro, “Retalhos na Pandemia”. Um pouco antes da pandemia, no carnaval de 2020, fomos a Barcelona. Lembro que havia aquela discussão sobre usar ou não máscaras; levamos, mas não utilizamos. A ameaça do vírus era uma nuvem aparentemente distante. Foi uma viagem maravilhosa, mas recebi no celular a notícia da morte de um amigo; ele morreu obscuramente, de uma doença longa e ruim. Pensei: “nossa vida é uma coisa precária, que não vale nada”. Durante algum tempo, trouxe uma nuvem de melancolia e tive a consciência e o sentimento de que nós, ali em Barcelona, éramos condenados à morte e que todas as pessoas do mundo, cada um, se acabará à sua vez—de repente, num estouro, ou devagar, aniquilado pela humilhação da doença. Não há pessoas tão distraídas que não tenham vivido esses instantes de consciência da morte, esses momentos em que a gente sente que ela não é apenas uma certeza futura, mas algo já presente em nós, que faz parte do nosso próprio ser.

Há uma força dentro de nós que instintivamente repele essa ideia; a experiência de cada um diz que a morte é uma coisa que acontece aos outros. Deixei de lado, na viagem maravilhosa, tudo o que esquecia, voltando para a vida, fascinado pelo seu jogo, pelo seu prazer, até pela sua tristeza. A realidade vulgar da vida logo nos empolga. A morte fica sendo algo vago, distante, algo em que, no fundo do nosso coração, não acreditamos. Voltamos de Barcelona e entramos na rotina de 700 mil mortes; ela se tornou a estrela da pandemia, pelo descaso e negacionismo.

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