Acidente no metrô, na linha um, foi causada após falha de rebocador, deixando seis pessoas feridas. Feliz neste mundo, de quem pode andar de metrô, que aqui em Salvador é de superfície, limpo e rápido. Acomodei-me num banco vazio, numa tarde clara sentindo a paz por dentro ao passar por bairros sem comércio. As casas passam, umas em acabamento, outras com jardim na frente, algumas de janelas escuras, numa delas uma moça a molhar uma planta. De repente e tão depressa, uma porção de coisas que eu não via há muitos anos: casas de jardim, janelas escuras, moça molhando planta. No metrô, uma mulher de pescoço magro, dois bancos a minha frente, a única viajante além de mim. Pescoço escuro, onde cabelos brancos e pretos terminam em redemoinhos. Agora, esta mulher do metrô me traz tantas lembranças e nas lembranças um bem-estar tão inesperado que, se não parecesse exibicionismo, eu lhe pagaria a passagem. Assim que entrou na estação relaxei. Por um bom tempo, fiquei pensando estar em um fuso horário diferente. Parecia que o caos lá fora ficará, de uma hora para outra, muito distante. Mas ao sair afligia-me o pobre olhar das pessoas. Por nada. Não há culpa ou causa comum. Cada qual carrega o seu deserto, seu calvário particular, ao transitar no metro para seu destino final.
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