“A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro”, John Kennedy (1917-1963).
Desde os primórdios dos tempos o homem enfrenta o desafio de dominar o conhecimento, inicialmente com imensas dificuldades de perceber o que lhe cercava vez que ignorante, preso a mitos e transferindo a causas sobrenaturais o que não entendia e, muito menos, explicava.
De si mesmo pouco sabia, pois convivendo com animais apenas percebia-se mais um deles: daí a força bruta instintiva utilizada como meio de sua própria sobrevivência, a selvageria empregada num ambiente em que a competição pela vida premiava o mais forte, o mais esperto no emprego dos meios que, no seu caso, aos poucos, ia dominando. Era, portanto, presa fácil num meio hostil, somente agregando experiência após muitas vicissitudes e travessias, criando lendas, erguendo tradições e, finalmente, estabelecendo a cultura.
Na atualidade, referencias às épocas primervas: pedra lascada, pedra polida e idade antiga têm para muitos significado jocoso, irônico, mas muito próprio da ancestralidade que não se pode negar. Elas retratam o que o homem foi em contraposição ao seu estatus vigente resultante da caminhada até atingir a atualidade, assim compreendendo o mundo que lhe cerca através do desvelamento da realidade e de si mesmo. Como se vê, uma caminhada e tanto de superações, ao longo de milênios!
Se a idade média foi assinalada como “idade das trevas”, pela supremacia das exigências postas pelo domínio da religiosidade, de forma a manter a fé e o domínio sobre tudo e todos, impondo a escuridão sobre o conhecimento, os tempos seguintes – pela ciência, tecnologia, artes e filosofia – foram marcados pelos avanços do saber humano, em que homens e mulheres trouxeram contribuições ao progresso humano, em vários campos do saber, por vezes com o sacrifício da própria vida. Basta consultar a história pós-idade média!
Transformações, avanços e tecnologia não vêm ao acaso e são, muito mais, frutos da insistência do homem na ânsia incontida de compreender o seu meio, sondar o desconhecido, dominar o que lhe cerca e avançar no desvelamento da realidade, na pretensão de conhecer a essencialidade de que ela é constituída, colocando-a a disposição do bem-estar da humanidade.
A contemporaneidade sabe-se são os dias atuais, ricos dos avanços das caminhadas humana em busca do progresso, as quais, bem antes, foram sonhadas, idealizadas e obtidas a muitos custos. À geração espontânea sucedeu a explicação científica, mitos e lendas foram sepultados pela demonstração da ciência e esta a arma maior, o instrumento mediatizador do conhecimento vulgar para os ditames da racionalidade científica.
É da natureza humana pensar a utopia não apenas pelo desejo da harmonia a mais universal possível, é, talvez, concretizar o que se afirma ideal – naquele momento em que se vive -, pois,saído das cavernas ancestrais, o homem muito já caminhou e insatisfeito com o progresso obtido ,ele quer mais, busca realizar no amanhã o inalcançável de hoje.
Em que base ou bases se assenta(m) a(s) materialização(ões) da utopia, das metamorfoses do mundo contemporâneo para um viver com harmonia e bem-estar?
Quem sabe, talvez, na capacidade e poder do homem decidido a promover mudanças pela educação, na certeza de poder alinhar como fundamento de transformações no caminho da concretude utópica, do ideal a ser conquistado, todo o arsenal que o homem ao longo do tempo amealhou de conhecimento e disponibilizá-lo a serviço das comunidades, “com engenho e arte” citando-se aqui o poeta maior da língua portuguesa, o laureado Camões.
A educação, de certa forma, ainda é utopia! Ora, se muitos a desejam qualificada, a exemplo de educadores e educandos, e ela ainda persiste no plano do ideal – pelo descaso de muitos – é porque não ocorreu a mudança da qualidade requerida, cumprindo à sociedade contemporânea fazê-la melhor através do emprego dos avanços do homem, que dominou o conhecimento, desvendou a si mesmo e já pode e deve contribuir na formação qualificada dos herdeiros futuros da sociedade a ser constituída.
No entanto, malgrado o que se assiste no campo educacional ainda carente de meios, ninguém nega o poder transformador da educação, todos afirmam. Mas, infelizmente, é paradoxal perceber o discurso das autoridades, dos políticos, e de varias outras fontes, que elegem a educação como prioridade das prioridades, que a exaltam como santa dos seus altares, mas, de forma contraditória, não lhes dão os meios para sua efetiva consolidação.
Forçoso é reconhecer que a contemporaneidade requer mais ação do que aquela atualmente existente na área da educação, de forma a serem superados os desafios da sua qualidade, mesmo sabendo-se que “há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia”, como afirmou William Shakespeare em obra (Hamlet) de sua dramaturgia.