A temporada de observação dos animais aquáticos na costa brasileira vai começar, especialmente no litoral do extremo sul da Bahia e do extremo norte do Espírito Santo, no trecho batizado de ‘Banco dos Abrolhos” ou simplesmente Costa das Baleias, onde entre os meses de junho a outubro, a época é propícia para a prática deste tipo de turismo, já que as baleias jubartes viajam até as águas quentes da região para se reproduzirem. Nesta época também cresce a incidência de animais nas praias, pois golfinhos, baleias, tartarugas, focas, lobos, leões marinhos e outros mamíferos são encontrados encalhados, vivos debilitados ou mortos nas praias brasileiras cada vez mais. Esse fenômeno ocorre tanto com animais saudáveis quanto com aqueles doentes, feridos ou mortos, suscetíveis a encalharem nas praias e tal situação chama atenção da população, pois, na maioria das vezes, não sabemos como agir.
A médica veterinária Adriana Colosio, coordenadora regional do Projeto Baleia Jubarte com sede em Caravelas, órgão vinculado ao Instituto Baleia Jubarte, alerta que com a chegada do período de reprodução, aumenta muito a incidência das baleias no litoral da região e algumas podem morrer por encalhes ou mesmo problemas de saúde. E informa que numa situação de encalhe de animais marítimos, a primeira coisa a se fazer é avisar às instituições responsáveis sobre o ocorrido, sendo no primeiro momento a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e na sequência o Projeto Baleia Jubarte. Ela esclarece que é importante reunir o maior número de informações possíveis, como fotos e vídeos, por exemplo, pois os profissionais que irão atuar no caso precisam ter total conhecimento da situação mesmo antes de chegar ao local do achamento. E caso o animal ainda esteja vivo, é muito importante manter a distância necessária dos animais, para não os estressar ainda mais.
O secretário Municipal de Meio Ambiente de Mucuri, jornalista e gestor ambiental Ronildo Brito, disse que a pasta já se prepara para a temporada de encalhes nos 45 quilômetros de litoral do município, muito comum nesta época do ano que se aproxima, no entanto, tranquiliza a sociedade sobre os possíveis encalhes, diante das providências que estão sendo adotadas, especialmente com o trabalho de conscientização junto aos pescadores em relação as redes instaladas em alto mar e a preparação da população à beira-mar para lidar com os casos eventuais que venham ocorrer, no sentido de saber agir e promover os primeiros contatos com as autoridades ambientais do município, salientando que cada caso é um caso, e em cada situação o trabalho precisa seguir as normas técnicas especificas e as providências prudenciais adotadas também junto ao Grupo de Estudos e Resgate de Mamíferos Marinhos da Região.
Causas comuns do encalhe de animais na praia
O biólogo Sandro Akhenaton Sulz Barros Barbosa, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Mucuri, explica que as causas mais comuns do encalhe dos animais são, principalmente, poluição (sacos plásticos, restos de redes e linhas de pesca), topografia (áreas de praias e baías), condições climáticas (geralmente após tempestades e mudanças de tempo), predadores (ataques inimigos podem debilitar os animais), toxinas naturais, doenças (animais muito debilitados para nadar ou se alimentar), problemas no sistema de localização do animal e atividades como pesca e emalhe dos animais que impedem que o animal consiga subir para respirar na superfície. “Todo animal marinho encalhado está extremamente amedrontado e sofrendo por estresse. Nesses casos, eles tendem a se debater na ânsia de desencalhar, ou tentar proteger seu filhote. É importante observar o animal a certa distância, antes de tomar qualquer iniciativa, principalmente se tratando de baleias. O ideal é chamar imediatamente as equipes de resgate disponíveis e que atendem na região, informando o local e condições do encalhe”, orienta o biólogo Sandro Barros.
E acrescenta: “O encalhamento de animais marinhos possui inúmeros motivos. Acidentes ocorrem mesmo na natureza, então, é natural, por exemplo, que alguns filhotes de golfinhos e baleias se percam de sua mãe ou que pinguins errem a rota de migração. Um animal encalhado pode estar doente, machucado, senil, perdido, incapaz de se alimentar por algum motivo ou fugindo de predadores. Além disso, a topografia costeira e as variações na maré podem se tornar armadilhas e levar animais até mesmo saudáveis para as praias. Um alerta importante é com relação aos pinguins, que frequentemente aparecem nesse nosso trecho entre Mucuri e Conceição da Barra, esses pinguins não são de regiões geladas e por isso nunca se deve colocar os pinguins no gelo. Portanto, ao encontrar um animal marinho, a primeira atitude é ligar para o órgão responsável em sua cidade. Em nosso caso aqui em Mucuri, o órgão inicial é a Secretaria de Meio Ambiente. Existem diferentes protocolos para cada espécie e situação, e só os especialistas do Projeto Baleia Jubarte saberão melhor como proceder”, alertou o biólogo Sandro Barros.
Procedimentos recomendados em caso de encalhe
De acordo com a médica veterinária Adriana Colosio, coordenadora regional do Projeto Baleia Jubarte, a primeira atitude a tomar quando se encontrar animais marinhos encalhados, estejam vivos ou mortos, é avisar os profissionais ambientais ou pesquisadores da instituição local envolvida com a conservação de cetáceos. Não se deve tocar ou mexer em animais encalhados para não colocar a própria saúde em risco. Agentes infecciosos podem ser transmitidos mesmo por animais aparentemente sadios. Além disso, o animal poderia machucar involuntariamente alguém ao bater as nadadeiras ou tentar movimentar-se. E insistir em empurrar um mamífero de volta para a água é inútil e arriscado. Amarrar ou puxar o animal pela cauda ou pelas nadadeiras poderia matá-lo ou machucá-lo.
A veterinária Adriana Colosio recomenda os seguintes procedimentos se o animal estiver vivo: Se possível, fazer um abrigo simples para mantê-lo à sombra, usando por exemplo lonas ou lençóis apoiados em alguns instrumentos estáveis. Manter o corpo do animal úmido, jogando água do mar ou aplicando toalhas de cor clara molhadas, sempre tendo o cuidado de não jogar água ou tapar o orifício respiratório e os olhos. Controlar o barulho e o tumulto perto do animal. Evitar o uso de flashes ou luzes diretamente sobre os olhos do bicho. E se o animal estiver nadando, não se aproxime. Muitos estão apenas de passagem, descansando, como acontece com o leão-marinho e o lobo-marinho, e podem se tornar agressivos caso se sintam ameaçados.
Segundo a veterinária Adriana Colosio, se o animal estiver entre as pedras, na areia ou apresentar dificuldades para nadar e subir à superfície para respirar, é necessário o atendimento por especialistas. E até que a equipe especializada chegue, não tente puxar o animal pela cabeça, nadadeira ou cauda. Você pode ajudar isolando a área para mantê-lo afastado de curiosos, cachorros e urubus. Para as aves marinhas em geral, quando debilitadas, o ideal é mantê-las em um ambiente seco. Para as tartarugas, use uma toalha úmida na carapaça, sem cobrir a cabeça do animal.