Mais de 90 mil mulheres foram assassinadas no Brasil de 1980 a 2010

Essa notícia me chocou de forma profunda, tanto é que após um tempo sem escrever, muito devido ao excesso de compromissos, acabei voltando, pois é um fenômeno que merece ser analisado, compreendido. Acredito que devamos falar sobre essas mortes em todos os lugares: nas conversas em casa, no intervalo das aulas e durante as aulas, nas igrejas, nos clubes, nas associações. Precisamos tentar compreender porque continuamos morrendo de forma violenta. Precisamos encontrar os vieses que amarram essa situação e aprendermos o que podemos fazer para evitar tais tragédias.

Os números são assustadores. A secretária nacional de segurança pública, Regina Miki, na abertura da 7ª jornada lei Maria da Penha, promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) destacou que “lamentavelmente o Brasil tem a sétima taxa do mundo”. Em dados oficiais, 91.886 mulheres foram assassinadas nestes 30 anos. Em média 30.628,67 a cada dez anos. Ainda em média 3.062,87 mulheres são assassinadas no Brasil todos os anos. São 8,39 mulheres assassinadas por dia. A cada três horas, uma mulher é violentamente morta no Brasil por seus companheiros ou ex-companheiros.

Como sociedade precisamos nos perguntar onde estamos errando. Nós mulheres, precisamos fazer essa pergunta, sem a retórica dos que acreditam que sabem a resposta, mas com o profundo intuito de compreender porque ainda reproduzimos a violência de gênero dentro de nossos próprios lares, fazendo assim o papel de vítimas e algozes. Não podemos ignorar que somos nós, mães, as responsáveis por muito do que os filhos aprendem como verdades, e são essas verdades que vão moldar o caráter de nossos filhos e guiá-los na vida adulta. Cabe então a pergunta: Como estamos apresentando a mulher aos nossos filhos? como a companheira ou a concorrente? a mulher como a inteligente ou como a “esperta”? a mulher como um ser humano completo e em crescimento ou como alguém incompetente, impotente e dependente do homem para ser respeitada?

Precisamos também, dizer um Basta às religiões que insistem em nos apresentar como a fonte do mal e do pecado. Que insistem em nos colocar no papel de subalternas e subservientes, mesmo quando igual aos nossos esposos e companheiros trabalhamos, produzimos, mantenemos nossos lares e participamos ativamente da educação de nossos filhos e da melhoria da nossa sociedade.

Tentar nos impor uma submissão ilegítima, irreal e passional é incompreensível no mundo atual. Já não andamos como errantes por desertos infindos onde o patriarca é o líder natural do grupo e por isso todos devem a ele obediência por que é ele que tem experiência, conhece a terra e enfrenta o inimigo com o custo de sua própria vida.

Nem a força física, nem a supremacia intelectual, nem o contato único e direto com Deus pode ser pretexto para o homem coagir suas mulheres a obedecê-lo. Para superar a força física hoje usamos as máquinas cada vez mais eficientes, a supremacia intelectual do homem esteve presente e foi incrível até as mulheres saírem de casa e irem para as universidades, o contato direto com Deus como exclusividade, creio que somente a cúria romana e algumas outras religiões e seitas ainda acreditam e pregam essa falácia que joga a mulher para um lugar secundário no contato com o Sagrado.

Nós como família, amigas, empregadoras, colegas de trabalho, devemos repudiar veementemente qualquer ato de violência contra uma mulher assim que nos chegue ao conhecimento. É preciso que nos revoltemos, é preciso que tomemos atitude, pois não é para ser vítima de violência de gênero que criamos com tanto amor as nossas filhas. Nós, homens e mulheres, temos 206 ossos, mas para os homens que ainda insistem em crer que viemos de sua perdida e reaparecida costela, fica a mensagem:

Cuida-te quando fizeres chorar uma mulher, pois Deus conta suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada. (Talmud)

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