No dia 8 de dezembro foi lua cheia. Eu estava na janela do meu apartamento, e a lua cheia já havia nascido, eu, sozinho na janela. Havia todos os ruídos da cidade lá embaixo, havia janelas acesas de apartamentos. Mas a visão da lua cheia era uma espécie de silêncio superior. Era um acontecimento silencioso e solene pairando na noitinha e no tempo.
Depois olhei para os lados, para a paz silenciosa, a indiferença infinita da natureza, tudo, se curva à existência com muda resignação. De repente, fui tomado pela sensação de amizade e aceitação, que possibilita um tipo de superioridade sobre qualquer destino, naquela noite, refleti sobre meus 65 anos, gozando de paz, olhado sem medo e com esperança para o restante de minha vida. Não enxergo nem luz, nem sombra à minha frente, mas, uma penumbra suave que se dissolve de maneira quase imperceptível no meu futuro. E com um sorriso tranquilo vi os anos que ainda estão por vir. Então fechei a janela e a cortina. Apaguei a lâmpada e fui dormir.