“Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e comemorar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar.” (Lucas 15.23-24)
A vida tem sido teoricamente dividida, na linguagem de muitos cristãos, como secular e cristã. Uma divisão teórica com sérios desdobramentos práticos. Alguns cristãos, considerando a diferença entre as duas, poderiam facilmente listar coisas, lugares e experiências que as diferenciam. E é inegável que há coisas, lugares e experiências apropriadas e não apropriadas a um cristão. Mas não é tão simples assim. Não basta categorizar a vida – cristã/secular – e então fazer uma lista de proibições e permissões. Viver como cristão exige mais que isso! Ser cristão é viver de forma livre e responsável, algo que não se alcança por meio de regras. São necessárias mudanças em quem somos. É necessário um coração semelhante ao de Deus. E tudo começa com o abraço e o beijo do Pai. Tudo começa com o amor de Deus e prossegue com nosso aprendizado em amar.
O filho mais jovem saiu de casa e foi festejar. E seu festejo acabou em tragédia: ele perdeu tudo. Pelo menos isso o fez “cair em si” e voltar para a casa do pai. Mas nossos festejos podem nos levar a tragédias sem necessariamente tirar tudo de nós. Porém, lá no fundo, na alma, sabemos que algo não vai bem. O rapaz voltou e foi recebido pelo pai, amorosamente. Foi perdoado e restaurado. E então o pai promoveu uma festa. O rapaz, que saiu para festejar, para “viver”, iria aprender que junto ao pai a festa é bem melhor e a vida, nem se fala! Viver junto ao pai não seria viver uma vida sem festa, sem música, sem boa comida e bom vinho! E isso não o levaria a tragédia. Essa parábola está nos ensinando sobre o Deus de Jesus, que criou o mundo e tudo que nele há (Sl 24). Ele não veio para nos tirar do mundo, mas para nos ensinar a viver seguros nele (Jo 17.15).
Fizemos da vida aqui uma tragédia, um desvio moral e ético. Somos destruidores do que Deus fez e de nós mesmos. Mas a vida aqui é valiosa aos olhos de Deus. Ser cristão envolve aprender a viver corretamente aqui, celebrar e alegrar-se na vida aqui. Tornar tudo sagrado e cristão, na medida em que somos mudados por nosso Pai Celeste e aprendermos a viver como quem está em Sua casa. Não precisamos abrir mão da vida, da festa ou do prazer, para honrá-lo (1Co 10.31). O segredo está no tipo de coração que nos habita. Em certo sentido, é mais fácil ser escravo de regras e proibições, do que ser livre e fazer escolhas sensatas. É mais fácil mostrar-se sensato por não festejar, do que aprender a festejar com sensatez. Não devemos demonizar a vida e nem dividi-la. Cristo veio para unificar todas as coisas (Ef 1.9-10). Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Mas, certamente, devemos julgar se estamos honrando a Deus com ela (Gl 5.13).