Após ter evocado tudo que a consciência individual contém de experiências inalienáveis, de belezas abordadas como se tivesse apertado uma esponja molhada no interior de minha mente, e só o que foi pintado dos momentos mágicos, aqueles borrões que ficaram formam a lembrança que tenho de Lisboa e sei que cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo, e os dias que passamos lá só em nossa alma está guardado, os instantes do fado, do bacalhau na nata, do pastel de Belém, do vinho português, lá tivemos alegrias profundas sabendo que a mais singular diferença entre a felicidade e a alegria é que a felicidade é um sólido e a alegria um líquido. Ao deixar Lisboa a minha alegria começava a vazar pelas frestas do vaso que a continha.
Tecemos ali uma história só nossa, onde olhávamos, distraído, as fachadas centenárias desfilarem sob a luz dos postes, os monumentos, o elevador de Santa Júlia, as árvores, os transeuntes, nos perdemos nas tardes do Castelo de São Jorge ,para além dos ramos altos das árvores, pelo céu velho onde as estrelas recomeçavam. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações.
Isso significou olhar para aqueles momentos não como apego, mas como uma alegria que apesar de ter escorrido pelo vaso, mostrou seu momento de beleza.