Keane

Keane

Keane completou doze anos dia vinte cinco de outubro. O amor começou no setor de cargas da Gol, as onze da noite, ao pegar este Maltez com dois meses e quinze dias que comprei em Botucatu, São Paulo, veio em uma bolsa caixa azul, todo branquinho.

Fiquei fulgurante em meio dessa mudança para a família. A revolução através do amor foi grande, ele mordia tudo, inclusive uma carteirinha de couro velha, vários móveis, os dentes em formação, ele no início era muito dependente. Inseguro. Ficou olhando tudo, reconhecendo o ambiente. Ele tem as orelhas caídas que erguem-se um pouco, como se quisesse apreender melhor nossas palavras e entre elas formam-se dois vincos próprios de uma testa franzida no esforço da meditação e o confinamento, com ele, tem outra perspectiva.

É um ponto de vista diferente, o comum fica de modo incomum e sem rotina, e mais humano, aumentando a interação. Ele visita todos os quartos dos membros da família.
As inesperadas possibilidades que não controlamos das reações naturais de amor, com carinho, parecendo sempre com seus latidos que é a primeira vez. A solução existencial para um cachorro é sempre o momento presente, não existe aquela noite ou aquele dia só hoje. Ele nos traz um saco de emoções e novidades, mas precisamos cuidar com amor e carinho. A vida é curta, e enquanto pensamos, ela se vai e finda. Tudo que tem de profundo neste amor é absolutamente imprevisível, como tudo na vida.

Mas com Keane estamos sempre vivendo raros momentos de amor, em que a compressão de mundo se altera, mesmo sem ser compreendido. Durante um curto período, você habita dois mundos, flutua entre eles o seu mundo racional e lógico e o mundo mágico, belo e irracional do cachorinho. Há certa uniformidade monótona numa casa sem este amor fiel e raro.

*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.

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