Julgamento do goleiro Bruno e da ex-mulher Dayanne recomeça nesta segunda-feira

O goleiro Bruno Fernandes de Souza e sua ex-mulher Dayanne Rodrigues vão a júri popular a partir desta segunda-feira (4) pela morte e ocultação de cadáver da ex-amante do jogador Eliza Samudio, de 25 anos, e pelo sequestro e cárcere privado do filho da jovem, Bruninho, crimes ocorridos, segundo a polícia, em 2010.

Sete jurados decidirão o destino dos réus no Fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), no júri presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. A previsão é que o julgamento dure cinco dias.

Segundo o Ministério Público, oito acusados, sob ordens de Bruno, participaram do sequestro e desaparecimento da modelo, entre eles o amigo Macarrão e uma ex-namorada do goleiro, ambos condenados em novembro. A Promotoria acusa o jogador, que atuava no Flamengo, de ter arquitetado o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia.

Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para o ex-policial militar Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.

Do total de nove acusados, três réus ainda vão ser julgados separadamente. No dia 22 de abril, o júri decidirá o futuro de Bola. Já em 15 de maio, vão a júri Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido.

Investigações

A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.

Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.

Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos devem ser usados pela acusação no júri. Um deles, Jorge Luiz Rosa, adolescente à época, já cumpriu medida socioeducativa por atos análogos a homicídio e sequestro. Ele foi o primeiro a delatar o goleiro, confessando ter ajudado Bruno a levar Eliza ao sítio. O jovem contou que a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois, negou tudo.

O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao ‘Fantástico’ neste ano. Ele disse que não tinha como Bruno não saber que Eliza seria morta.

 

O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime, mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano. Ele também chegou a desmentir as acusações contra o goleiro, mas, em uma carta enviada por ele aos pais, incluída no inquérito, relatou ter sofrido ameaça de outros advogados para alterar o depoimento. À época, o advogado de Bruno, Francisco Simim, negou qualquer pressão.

Confronto de versões

Defesa e acusação devem apresentar seus argumentos para tentar convencer os jurados. Antes, serão ouvidas 15 testemunhas, seguidas pelo interrogatório dos réus, que têm o direito de permanecer em silêncio. Desde o início das investigações, em junho de 2010, todos negam o crime, mas, a cada troca de advogados, as declarações dos principais acusados mudaram.

Na primeira versão sobre o caso, ao ser questionado sobre a denúncia anônima afirmando que Eliza havia sido morta, o goleiro disse que ela deixou o filho com Macarrão, o amigo a quem chamou de “funcionário”, e que não a via havia dois meses. Mais tarde, seria divulgada a tatuagem do amigo do goleiro: “Bruno e Maka. A amizade, nem mesmo a força do tempo irá destruir, amor verdadeiro”.

Bruno e Macarrão acabaram condenados pela Justiça do Rio em outro processo por cárcere privado e sequestro de Eliza. Naquele julgamento, em novembro de 2010, o goleiro disse que havia mentido na primeira declaração a jornalistas e que encontrou Eliza no sítio. Em recurso, a Justiça do Rio reduziu a pena para 1 ano e 2 meses, e o caso foi extinto.

No início de 2012, o então advogado de Bruno, Rui Pimenta, afirmou que o goleiro admitiria no júri que Eliza está morta e que Macarrão teria tomado a decisão de matar a jovem. Reportagem da revista “Veja”, em julho, afirmava que Bruno teria mandado uma carta para Macarrão usar o “plano B”, que seria assumir a culpa sozinho. A defesa de Bruno confirmou a carta. A defesa de Macarrão nega esta versão, e a de Bola a classifica como “suicida”.

No primeiro júri, em novembro de 2012, Pimenta foi destituído, e mais uma vez a linha de defesa do jogador mudou. Agora, o advogado Lúcio Adolfo diz que espera que a Promotoria prove concretamente a existência do crime e que Bruno é o culpado. Segundo o advogado, a autorização da emissão da certidão de óbito de Eliza feita pela juíza Marixa Fabiane após a confissão parcial de Macarrão muda completamente o rumo do processo. O corpo nunca foi encontrado.

De posse de todos os depoimentos e provas apresentadas no julgamento, os jurados devem se reunir em uma sala secreta para definir o veredicto para cada um dos réus. Se considerados inocentes, saem livres do fórum. Se culpados, as penas serão definidas pela juíza.

Pelo Código Penal brasileiro, ninguém permanece preso por mais de 30 anos. Com 2/5 de pena cumprida, por se tratar de crime hediondo, os réus podem pedir progressão para o regime semiaberto, que deve ser decidida pelo juiz com base no comportamento e antecedentes.

 

G1-BA

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