No decorrer desta semana, quarta e quinta-feira (dias 8 e 9) marcaram o envolvimento dos educadores de Posto da Mata com a Jornada Pedagógica que a Secretaria Municipal de Educação vem promovendo desde o dia 24 de janeiro, alcançando resultados extremamente positivos.
Na quarta, o turno matutino foi direcionado aos professores do 5º ao 9º ano do ensino fundamental; depois, pausa para almoço nas dependências da Escola Laura Bandeira com a equipe da Secretaria de Educação, palestrantes e convidados. No vespertino, o trabalho mobilizou os educadores da educação infantil até o 4º ano. As atividades foram retomadas na manhã de quinta com os professores das séries iniciais do ensino fundamental, seguidas de almoço.
A Jornada Pedagógica completou as três etapas: primeiro com diretores, vice-diretores, coordenadores e especialistas; no segundo, com equipes de apoio – secretários escolares, auxiliares de serviços gerais e outros; culminando com os professores. A participação dos servidores foi considerada muito boa.
Em todos os momentos, o foco baseou-se na temática “Somar Talentos, Dividir Experiências e Construir Saberes”.
Representando o prefeito Manoelzinho, o vice-prefeito Ruberval Lima Porto participou de todas as etapas do evento, cuja finalidade é reunir os servidores da educação na missão de partilhar ideias, ensinar e aprender na coletividade, com o propósito de promover o fortalecimento do processo educativo, almejando e buscando oferecer novas possibilidades no cotidiano escolar.
A coordenação dos trabalhos ficou com a secretária Adriana Botelho e sua equipe.
Cantinho do Ruberval
O nordeste que deu certo
Há quarenta anos foi lançado o livro “China: o nordeste que deu certo”, da escritora cearense, Heloneida Studart (1932-2007). Trata-se de um livro pequeno, de 181 páginas, onde a autora relata uma viagem que fez à China. Voltei a tirá-lo de uma das minhas estantes porque, nas minhas elucubrações e perplexidades sobre o Brasil, que não consegue resolver problemas básicos, lembrei-me da descrição da Heloneida sobre como a China acabou com o analfabetismo.
Darcy Ribeiro (1922-1997), no prefácio do livro, diz que se trata de “uma lufada de ar fresco frente aos prognósticos pessimistas dos sábios do Clube de Roma” e que com ela, Heloneida, “aprendemos que o mundo tem remédio… até o Nordeste poderia, em prazos razoáveis, se tivéssemos juízo, construir com as suas mãos e os barros mais atoas deste mundo, não mais riqueza para os ricos – como produziu sempre – mas uma modesta, porém geral prosperidade chinesa”.
O Darcy morreu há vinte anos, razão pela qual não pode testemunhar a atual prosperidade chinesa, que nada tem de modesta. E, mais do que prosperidade, o seu imenso progresso no campo da cultura, da ciência e da técnica.
Gilberto Freyre dizia que “ler é ouvir os outros”. Vamos, pois, ouvir o que a Heloneida nos conta sobre o fim do analfabetismo na China, coisa muito mais útil de se fazer que ficar vendo vinte e dois marmanjos correndo atrás de uma bola, coisa de quem, paradoxalmente, não tem mais o que fazer num país onde quase tudo está para ser feito. Com a palavra a Heloneida:
“Não é fácil alfabetizar centenas de milhões de pessoas. Principalmente, se a escrita é composta daqueles inumeráveis caracteres, cada um deles constituído de muitos traços, com uma estrutura complexa que os torna difíceis de ler, memorizar e escrever – desconfio que eu passaria anos antes de conseguir reconhecê-los. Assim mesmo, realizada a Libertação e feita a reforma agrária, os chineses lançaram-se à tarefa de acabar com o analfabetismo (80 por cento da população era analfabeta. No campo, este percentual alcançava noventa por cento).
Em 1955 a palavra de ordem de alfabetizar todo o pais assumiu uma forma planificada e como, na China, não funcionava a filosofia “eu estou na minha”, todos partiram – com todos – para ensinar a ler e escrever a milhões de chineses, entre 15 e 45 anos de idade. Foi fundada uma associação nacional de alfabetização e houve uma convocação geral às massas para que ajudassem no plano, Representantes dos sindicatos, das organizações femininas e das entidades juvenis começaram a mobilizar todas as forças sociais para a campanha. Não havia sala vazia ou praça disponível em que os chineses não se reunissem para discutir os métodos a serem usados. Discursos, conferências, jornais murais, difundiam a urgência da aplicação do plano. Enquanto isso, aos milhares, os ativistas voluntários iam de casa em casa, para ensinar aos analfabetos. Só na província costeira de Shandong participaram do trabalho de alfabetização três milhões de pessoas”.
Além desses tipos de cursos os chineses criaram “grupos de estudos em casa”; qualquer pessoa que soubesse ler ia à casa de quem não sabia. Ali, entre goles de chá fumegante, empenhavam-se em explicar os 1500 caracteres chineses. Donas de casa que haviam nascido e crescido na China antiga, tendo comido apenas as sobras do arroz dos seus pais (e depois a de seus maridos), começaram a memorizar os traços inumeráveis. Segundo me contaram, elas chegaram a ser patéticas em sua decisão de aprender a ler a qualquer custo. As vezes, levavam cartões com caracteres escritos nos bolsos do blusão para olha-los, de vez em quando, enquanto cozinhavam ou arrumavam. Algumas os rabiscavam nos móveis, nos quartos, nas panelas, encorajavam os seus maridos (quando estes também estavam lutando para aprender) a levar os caracteres pintados em tabuletas para o campo e os colocarem ao lado dos canteiros de trabalho. Houve mulheres que pintaram caracteres em árvores. Quem passasse dava uma olhada.
Os camponeses, por sua vez, tratavam de instalar salas de aula com um mínimo de despesas. Pediam salas desocupadas emprestadas, levavam para lá os móveis de seus próprios lares. E quando não tinham, conduziam caixotes ou arrumavam bancos de tijolos. Em apenas um ano e meio, a maioria desses milhões de esforçados já podiam ler jornais, escrever recados e cartas.
Para prevenir um retrocesso possível, o Plano de Alfabetização foi em frente, criando escolas regulares: primárias e secundárias, escolas agrícolas e até “universidades de horas de folga”. Onde não havia condições , os alfabetizados se organizavam em grupos de autodidatas. E recebiam de organizações oficiais, livros e jornais.
Segundo nos conta a Heloneida, “os chineses não menosprezam a palavra heroísmo. O altruísmo é um dos dados mais impressionantes desse processo de transformação. Constituíram uma sociedade que defende determinados valores, com pontos de referência nítidos. Onde ninguém diz “não é da minha conta” e existem papeis definidos para as pessoas desempenharem, obtidos por um consenso geral da sociedade. Isso é tanto mais evidente quando a gente vê o comportamento das crianças nas escolas. Elas não sobem nas carteiras, nem jogam um balde de tinta na cara dos professores, como acontece em nossos mais avançados jardins-de-infância”.
Um dos dramas brasileiros é que somos um país de não-leitores. Como temos aversão á cultura, não queremos aprender e temos raiva de quem quer, vamos sempre cometer os mesmos erros e sofrer as mesmas consequências. Um dos mais evidentes sintomas dessa nossa patologia é o nosso sistema de ensino, onde a maioria das pessoas que o administra é incompetente, mas, mesmo assim, se recusa a pedir ajuda.
Dados de 2015 mostram que o maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo era o dos Estados Unidos, cerca de 18 trilhões de dólares. Em seguida vinha o da União Européia, cerca de 16 trilhões. A China vinha em terceiro, cerca de 11 trilhões.
E o Brasil? Bom, nós perdemos posição e estávamos, em 2015, no nono lugar, com um PIB de pouco menos de 2 trilhões. Não se pode dizer que o Brasil não seja um país rico, o problema é que a riqueza está concentrada. Cinco estados, do sul e do sudeste concentram 65 por cento da riqueza nacional. São Paulo tem o maior PIB e o segundo maior PIB per capita. O Rio de Janeiro tem o segundo maior PIB e o terceiro maior PIB per capita. O sétimo PIB brasileiro é o da Bahia, mas está em vigésimo segundo lugar no PIB per capita, o que indica que tem uma péssima distribuição de renda. Cinco municípios baianos concentram quase a metade da riqueza do estado.
O quinto município baiano no PIB é Vitória da Conquista, cujo PIB é treze vezes maior do que o de Nova Viçosa. O PIB de Salvador é 142 vezes maior do que o de Nova Viçosa, cujo PIB representa menos de dois por cento do PIB do estado.
Por que a China foi o “nordeste que deu certo” e nós somos o nordeste que nunca dá certo? Por que a China conseguiu alfabetizar o seu povo e nós continuamos a ser um país de analfabetos, a não ser nas estatísticas mentirosas dos governos?
A resposta é simples: houve na China uma vontade nacional, desejo de participação, espírito de solidariedade, a determinação de superar a pobreza. Porém, mais que isso: havia liderança, um governo que mobilizou o povo em prol de uma causa maior.
Era uma conjuntura bem diversa da brasileira, com uma classe política, quando não corrupta, despreparada, analfabeta, sem leituras e sem projeto nacional. Em geral os nossos políticos tem apenas projetos pessoais, que envolvem, muitas vezes, a entrega do país aos estrangeiros.
Acabar com o analfabetismo num país como a China não poderia ser obra apenas de meia dúzia de pedagogos. Haveria que contar com a participação de milhões de cidadãos. No Brasil não poderá ser diferente, não haverá de ser diferente. Enquanto as nossas elites dirigentes não entenderem isso, permitindo, com objetivos puramente eleitoreiros, que o nosso sistema de ensino permaneça um feudo de mediocridades, continuaremos na rabeira do mundo em matéria de educação. Recente edição online do jornal O Globo publicou os resultados do desempenho de estudantes de 40 países. O Brasil ficou na antepenúltima colocação. E ninguém parece se importar com isso. Não dá mostras de sentir vergonha. Nas primeiras colocações a Coréia do Sul, Japão, Singapura, Hong Kong e Finlândia.
O Darcy Ribeiro disse que o livro da Heloneida nos mostra que “o mundo tem remédio” e que o nordeste brasileiro pode dar certo, se tivermos juízo. Eu ouço essas palavras do Darcy e me bate uma desesperança. Ele diz “se tivermos juízo” e isso é coisa que não temos. O que temos é, em geral, acomodação, resignação, conformismo. Não há ética, compromisso, responsabilidade. Corromperam o povo, que está infantilizado, quando não pervertido, que se satisfaz com uns trocados para o churrasco e a cervejinha do final de semana, que se resigna a viver em barracos, em ruas esburacadas, se rede de esgoto, sem iluminação pública decente.
O resto, como diz o professor Clóvis de Barros Filho, “é preguiça e covardia”.
O que se foi não voltará para nós jamais.
Depois que se nasce não se volta para o útero materno. O que se queimou e virou cinzas jamais voltará a ser o que era. Velhos não voltarão à juventude. Existem processos reversíveis mas algumas perdas são irreparáveis.
Estive lendo sobre José Rodrigues Leite e Oiticica, que nasceu em 22 de julho de 1882, na cidade mineira de Oliveira, mas passou a maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde faleceu em 30 de junho de 1957, após mais de meio século de intensa e expressiva atividade intelectual.
Oiticica foi jornalista, poeta, teatrólogo, musicista, sociólogo, contista e filólogo, mas foi como professor que ele se tornou mais conhecido e acatado. Exerceu o magistério desde cedo e foi professor do Colégio Pedro II durante 35 anos.
No Rio de Janeiro foi aluno brilhante, tendo concluído os preparativos com 15 anos. Cursou a Faculdade de Ciências Jurídicas mas não exerceu a advocacia. Por fim estudou medicina até o quarto ano.
Era vegetariano, nunca fumou, nunca bebeu. Foi tradutor de alemão.
Polígrafo, deixou mais de 2000 trabalhos impressos. Em jornais e revistas. Durante 50 anos praticou o jornalismo nos principais jornais do Rio. Foi redator do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil. No jornal Diário Carioca manteve uma sessão de crítica musical.
Tendo desistido das profissões de advogado e médico, Oiticica foi ser professor, inicialmente ensinando História. Em parceria com a mulher, com quem teve oito filhos, fundou no bairro do Leme, em 1906, o Colégio Latino-Americano.
Em 1910 submeteu-se a concurso público para professor no Instituto Benjamin Constant, tendo obtido o primeiro lugar.
Em 1916 foi nomeado pelo ministro Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, professor de português do Colégio Pedro II.
Para os seus alunos e demais estudantes escreveu um Manual de Analise Léxica e Sintática, em 1919, e o Manual de Estilo em 1926, que tiveram boa recepção nos meios filológicos e linguísticos. Escreveu outras obras importantes.
Na escola de teatro da prefeitura do rio de janeiro deu aula de prosódia.
Em 1929 classificou-se em primeiro lugar no concurso para professor de Língua e Literatura Portuguesa da Universidade de Hamburgo. Na década de 50 Oiticica foi contratado para corrigir os erros dos locutores das rádios. Que diferença para os dias de hoje, em que locutores de rádio, que até se dizem educativas, agridem o idioma, e ninguém se preocupa com isso.
Havia um programa, chamado Colégio do Ar do qual participavam mestres do colégio Pedro II.
Oiticica foi o responsável pelo ensino do Grego na Universidade do Distrito Federal, depois UERJ.
Musicista deixou-nos diversos hinos religiosos, uma ópera e composições ligeiras. Gostava das tocatas e fugas de Bach (o vulgum pecus sabe o que são essas coisas?).
Sobre o Oiticica, assim se expressou Viriato Correia, teatrólogo e acadêmico: “Sabia de tudo. Professor que se podia chamar de mestre. Não se parecia com pessoa alguma. Incapaz de uma insinceridade, de uma mentira. Um místico, sempre voltado para a beleza e a grandeza das coisas”.
Volto agora às minhas reflexões iniciais, sobre as perdas irreparáveis. Oiticica não foi o único brasileiro a sair de pequenas cidades desconhecidas do interior para exibir talento na cidade grande e até para o mundo. Porque escasseiam hoje, no Brasil, homens como José Oiticica?
Olhando o ensino no Brasil nos tempos do Oiticica e comparando-o com o de hoje vem-me a impressão de que estamos diante de perdas irreparáveis. Oiticica era mestre inspirador como o foram vários do passado. Do Colégio Pedro II saíram quatro presidentes da República, ministros, senadores. O Carlos Fux, ministro do STF, foi aluno do Pedro II.
Que inspiração dão os professores de hoje aos seus alunos, que saem das escolas e vão ser profissionais de baixa qualificação e pífia remuneração? Do Colégio Pedro II saíram presidentes. De escolas ruins saem entregadores de pizza e ajudantes de pedreiro. Naturalmente que estas são profissões dignas, úteis e necessárias, mas um país não poderá ser construído sem alta criatividade, cultura e inteligência.