Li a biografia de John Lennon, o grande público conhece o sucesso e a sua morte por tiro dado por um fã, mas o início de sua vida foi difícil ele fez uma terapia primal, com até três horas diárias, por três semanas, a terapia ocorria em um espaço com isolamento acústico, acolchiado e sem janelas, no qual os clientes se deitam, isoladamente ou em pequenos grupos, em esteiras.
O cliente retorna cronologicamente às suas lembranças e relata os acontecimentos. Traumas reprimidos voltam à consciência e são revividos em nível corporal como vivências primais. Os sentimentos dolirosos a eles ligados devem ser intensificados por meio de gritos, choros e respiração ofegante.
John Lennon sofria, sobretudo, por seu relacionamento com os pais. Seu pai abandonara a família quando o cantor e compositor ainda era bebê. Sobrecarregada, sua mãe, Julia Lennon, entregou-o aos cuidados de sua irmã Mimi Smith. Mãe e filho só se reaproximaram cerca de dez anos mais tarde. Porém, em 1958, Julia Lennon morreu, atropelada por um policial embriagado, que estava fora de serviço – mais um trauma para John Lennon, que na época tinha 17 anos e teve pouco tempo para vivenciar a proximidade com a mãe.
Após a terapia primal com Arthur Janov, John Lennon escreveu a canção ” Mother ” , lançado em 1970 que dizia: ” Mother, you had me, but I never had you” ( Mãe, você me teve, mas eu nunca tive você), e ” Father, you left me, but I never left you” ( Pai, você me deixou , mas eu nunca o deixei). O refrão de dois versos no final da canção, ” Mama, don’t go, Daddy come home “( Mãe, não vá embora; pai , volte para casa), intensifica-se até se tornar um grito comovente.
Podem acreditar na minha experiência: a verdadeira característica do inferno não é o sofrimento que foi infligido pelos pais de John Lennon a ele inconscientemente. O sofrimento é algo banal, inerente a existência. Desde o nascimento, o ser humano sofre em qualquer lugar, o tempo todo, por tudo e por nada.
A verdadeira característica do inferno, além da intensidade do sofrimento o vazio causado pela falta do pai e a perda da mãe, é, sobretudo, o fato de não podermos pôr um fim nele pois incrustado na alma. Ninguém jamais escreveu, pintou, esculpiu, modelou, construiu, inventou senão para sair do inferno e isto John Lennon fez de forma magistral com sua arte.
“Dukarai” é uma interjeição fraca para exaltar este texto brilhante!