Eu vejo a reportagem primeiro no celular, no início do ano, e hoje, dia quatro, vou andar aqui na Graça, em Salvador, neste início de janeiro e uma notícia trágica apresenta uma pergunta incômoda que fica martelando a minha cabeça, uma pergunta que se instalara deste o dia primeiro na minha mente, sem que eu pudesse expulsar. O inconsciente é incrivelmente complicado. Não se consegue escapar de seu determinismo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas veem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida. Uma mulher morreu aqui em Salvador, quando comemorava o Réveillon por bala perdida, atingida na cabeça estava na companhia de familiares, era fisioterapeuta.
Por mais nitidamente que eu compreenda este sofrimento dos entes queridos, eu não lhe posso tocar, mas é preciso esforçares- te por compreender também o mundo tal como ele é. Pensar na realidade das coisas. De que te serve perceber ao longe tanta coisa que ninguém mais vê? O tempo leva tudo consigo, menos a saudade dos familiares pela morte dela.
Em alguma parte profunda do cérebro, este momento trágico permanecerá na memória dos entres queridos. Não podemos enxugar todas as lágrimas, do mundo, da tragédia dos desabrigados da enchente no sul do estado, do desemprego, da fome, mas enxugue uma, e lembrei-me de uma imagem da casa de meu avô: uma dançarina mantinha com as duas mãos levantadas uma concha, de onde gotejava uma lágrima, enquanto aos seus pés corria livremente um regato de lágrimas.