Itapetinga: Médico investigado por degolar bebê em parto defende ação

Equipe médica deve prestar depoimento ainda nesta semana, diz a polícia.

Bebê teve cabeça arrancada em parto e pai denunciou caso.

“Fiz o procedimento correto como pede a medicina. Minha atitude foi correta. Não tinha outra conduta a ser realizada, a não ser essa que tomei. Eu e a minha equipe precisávamos salvar a vida da mãe”, afirmou à reportagem nesta segunda-feira (28) o médico obstetra Rubem Moreira Santos, investigado após a cabeça ter sido arrancada e um bebê morto em um parto realizado no Hospital Cristo Redentor, na cidade de Itapetinga, região sudoeste da Bahia. A denúncia foi feita pelo pai da criança, Paulo César Moreira da Silva, e é investigada pela delegacia de Polícia Civil da cidade.

Rubem Moreira defendeu o procedimento realizado durante o parto. “Fui avaliar a paciente às 9h30, examinei e, duas horas depois, eu voltei para examinar. Às 13h30, com menos de seis horas de internada, ela já estava sendo encaminhada para a sala de parto”, disse. Segundo o médico, a cabeça do bebê ficou preso no corpo da mãe. “Acompanhei e, como de costume, a criança colocou a cabeça para fora. A ideia que temos, e que em 99% dos casos é verdade, é que passa a cabeça e, em seguida, passa o resto normalmente. Com ela [gestante], o bebê passou a cabeça e a gente procura que a criança apresente o ombro. Mas não apresentou nada e ficou o corpo retido na cavidade uterina”, descreveu.

Ele afirma que a criança morreu de dois a três minutos depois da cabeça ter saído no parto normal. Segundo o obstetra, após perceber que o corpo da criança não estava passando, um médico anestesista, que fica de sobreaviso, foi chamado.

“Ele [anestesista] foi até o hospital, fez a anestesia geral e não conseguiu retirar o corpo. Nem assim progrediu. Passamos mais de uma hora nessa labuta, com a equipe de profissionais. Ninguém conseguiu tirar a criança. Quando a criança passa por esse tipo de alteração, a medicina recomenda que, nesses casos, frature a clavícula para diminuir um espaço entre um ombro e outro, para sair mais fácil. Nem assim conseguiu fraturar. Não houve a fratura. Após esse procedimento, procurei a família, expus o fato para o esposo e a mãe da paciente e pedi autorização para fazer o procedimento radical de degola. O único caminho que tínhamos era esse”, detalhou. “Estou com minha consciência tranquila. Após todo o procedimento, salvei a vida da mãe que era o recomendado após a criança não ter reagido”, completou.

O pai da criança, Paulo César Moreira da Silva, disse na denúncia, no entanto, que o médico o teria informado que as duas clavículas foram quebradas no procedimento. A reportagem entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina (Cremeb) para obter mais informações sobre o tipo de procedimento informado pelo médico, mas as ligações não foram atendidas nesta segunda-feira. O médico foi afastado do hospital para apuração administrativa dos fatos. Segundo informou a Polícia Civil nesta segunda, o médico e a equipe de enfermeiros devem ser chamados para prestar depoimento nesta semana. A situação ocorreu no dia 6 e a queixa registrada no dia 8 de setembro. A mãe passa bem.

O pai da criança afirmou que o único plantonista no hospital era o médico obstetra e que ele, ao mesmo tempo, estava também de plantão na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Sobre a queixa, Rubem Moreira disse que estava de sobreaviso no hospital e não de plantão. Além dele, segundo o profissional, havia outros dois médicos. “Eu não estava de plantão, estava de sobreaviso. O hospital tinha mais dois plantonistas: um na UTI e outro que fica tomando conta da parte do hospital. Essa história de que não tinha médico é inverídica, pelo menos nesse dia”, disse.

Versão da família

“Minha esposa sentiu as dores às 7h, ainda em casa. Então, eu e minha sogra levamos ela para o hospital. Ela deu entrada no centro cirúrgico às 9h. As enfermeiras disseram que estava tudo bem, mas não deixavam que nem eu e nem a minha sogra entrasse para ver”, contou o pai ao G1 no dia 24 de setembro. “Nesse tempo, o médico estava em duas funções ao mesmo tempo. Quando deu 13h, uma enfermeira disse que minha esposa não estava bem e pediu que eu fosse procurar o médico lá na UPA”, relatou o pai.

Após solicitar apoio do profissional para o parto da esposa, já no hospital, Paulo César disse que foi informado pelo médico de que a criança não tinha mais vida. “Ele [médico] saiu da UPA 25 minutos depois que falei com ele sobre a situação com minha mulher. Ele seguiu para o Cristo Redentor [hospital] e, quando deu 15h45, me chamou para falar que a criança já estava morta”, apontou.

Com base no relato do pai, por volta das 18h, o médico o chamou no consultório e relatou sobre a fatalidade. “Ele [médico] disse que em 43 anos de profissão nunca tinha ocorrido aquilo com ele. Falou que tentou o parto normal e que minha esposa faltou força quando a cabeça da criança saiu para fora. Porém, não conseguiu tirar o restante do corpo e quebrou duas clavículas do meu filho”, complementou.

Mesmo após quebrar os membros da criança durante o parto normal, segundo informou o pai, Paulo César disse ainda que o médico revelou ter tentado realizar uma cesariana e que o corpo da criança não saía. O bebê pesava 5,8 kg, segundo a família. “Segundo ele [médico], foi preciso cortar a cabeça do meu filho. Ainda disse que costurou e que já dava para enterrar. Parece que ele [bebê] ainda estava com vida”, descreveu. O corpo da criança foi enterrado no mesmo dia do parto, no Cemitério Parque da Eternidade, em Itapetinga.

Investigação

O delegado titular Roberto Gomes Júnior, que investiga o caso, contou que o médico mora na cidade de Camacan e será intimado a prestar depoimento. Um ofício foi enviado ao hospital para que informações do prontuário sejam disponibilizadas e a exumação do corpo vai ser solicitada ao Departamento de Polícia Técnica (DPT). O objetivo é saber a “real” causa da morte, informou o delegado.

Em nota, a coordenação do Hospital Cristo Redentor e da Fundação José Silveira disseram, na quinta-feira (24), que afastou o médico responsável pelo parto para que os fatos sejam apurados. A situação foi levada ao conhecimento da Comissão Interna de Ética Médica e ao Cremeb para análise e encaminhamento das providências cabíveis, informaram.

Na ocasião, a reportagem falou também com o Cremeb, que, através da assessoria de comunicação, apontou que os processos geralmente tramitam em sigilo, mas que, até a tarde daquele dia, o órgão não havia registrado denúncia do caso na Corregedoria.

Segundo a Fundação José Silveira, mantenedora da unidade de saúde, o médico tem mais de 40 anos de profissão e faz parte do quadro de profissionais do hospital desde antes da instituição assumir a administração da unidade de saúde, o que ocorreu em julho de 2013. O Hospital Cristo Redentor informou que se solidariza com as famílias, “assegurando o compromisso de dar encaminhamento à apuração dos fatos”.

Cássia Bandeir/G1

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