Minha entrada no mundo do trabalho foi no interior, e, pela primeira vez, em toda a minha vida, eu estava por minha conta, sozinho. Sem a supervisão dos pais, sem a mão estendida para orientar, restringir ou me disciplinar. O pesar cotidiano, a resposta às múltiplas privações e as pequenas mortes que ocorrem quase diariamente com suas escolhas solitárias.
Na minha frente, um destino desconhecido me esperava; atrás a vida que levei na capital Salvador, tão cheia de prédios, trânsito e já com insegurança. Experimentava uma inquietação difusa em relação à mudança. Na pensão, que estava instalado uma noite, enquanto observava pela janela o céu estrelado tocar está pequena cidade e as luzes surgirem como vaga-lumes no campo de casas que se estendia diante de mim.
Naquele dia, porém, minha mente estava presa em outro tempo, outro lugar, mas, de repente, fui atraído pela lua cheia que pairava sobre a cidade, projetando um brilho tênue e iluminando as casas em frente, todas simples. Em uma delas parecia haver gente sentada na porta apreciando o luar.
Então, de súbito, desejei morar nesta quietude, fazer parte daquele círculo de pessoas que estavam olhando o luar e as estrelas. O luar era envolvente, não tinha a sombra de prédios, nem o barulho de trânsito. Na profundeza dos meus olhos senti o brilho de minha alma. Como se meu coração tivesse sido aberto por uma corrente de plenitude. Eu ainda não havia aprendido como a vida funcionava no interior, mas já encantado com a sensação de paz do local.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.