Usada como como ofensa, a palavra anta deveria ser retirada do vocabulário brasileiro, na opinião de especialistas ouvidos pelo g1. Eles alegam que a definição distancia a sociedade da verdadeira anta, animal que está na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção como vulnerável — o levantamento é do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA).
Em 27 de abril é comemorado o dia mundial da anta. O g1 conversou com Patricia Medici, pesquisadora da espécie e coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), que menciona que o animal ainda é visto por muitos como uma espécie de pouca inteligência.
“No entanto, a ciência já mostrou por meio de estudos que a anta tem um número elevado de neurônios e é um animal de extrema importância para a sociobiodiversidade. Essa percepção errônea sobre a anta afasta o interesse das pessoas pela conservação de uma espécie que está na lista vermelha de ameaçadas de extinção como vulnerável. Afinal, com esta associação pejorativa, como as pessoas podem desenvolver um senso de orgulho por este animal?”, questiona.
Medici explica que a “falsa percepção” da palavra “anta” está relacionado a algo difundido ainda nos tempos do Brasil Colônia. “Quando os portugueses chegaram à costa do Brasil, conheceram a anta e pelo tamanho e porte do animal tentaram domesticá-la para o transporte de cargas. No entanto, como um animal selvagem, a espécie não se submeteu. Pelo fato de não conseguirem domesticá-la, passaram a relacioná-la a um animal de pouca inteligência, o que a ciência já mostrou que não é verdade”.
A anta-brasileira é uma espécie de grande importância para o ecossistema brasileiro. O bicho é o maior mamífero terrestre da América do Sul e as fêmeas podem chegar até 300 quilos e 2 metros.
Os pratos principais das antas são os frutos. A alta ingestão desses alimentos é feita por um trato digestivo que otimiza a germinação. Pelos cientistas, como Medici explica, as antas são conhecidas como jardineira da floresta. “A anta é reconhecida pelos cientistas como jardineira da floresta, pela contribuição expressiva com o próprio ambiente em que vive. Ou seja, onde tem semente que passou pelo trato digestivo do animal, tem semente pronta para germinar!”, comemora a pesquisadora.
Além de serem as jardineiras, as antas são chamadas de sentinelas. A partir de pesquisas, como a coleta de sangue dos animais, cientistas conseguem entender, identificar e alertar inúmeros riscos ao meio ambiente.
Veja outras curiosidades da espécie abaixo:
- No mundo, há quatro espécies de anta: anta-brasileira, anta-da-montanha (que vive nos Andes), a anta-centro-americana (encontrada na América Central) e a anta-asiática (Indonésia, Malásia, Mianmar e Tailândia);
- No Brasil, boa parte da espécie vive no Pantanal e no norte da Amazônia;
- Em boa parte do Pantanal e no norte da Amazônia a espécie está em uma melhor situação;
- No Cerrado, as antas lidam com muitas rodovias e colisões constantes, caça ilegal e um risco elevado de contaminação por agrotóxicos, em função da expansão da agropecuária em larga escala;
- As antas possuem baixo potencial reprodutivo;
- A gestação de um novo filhote pode durar 13 a 14 meses e em intervalos entre nascimentos de até três anos;
- A anta que é herbívora/vegetariana ingere entre oito e nove quilos de alimente por dia, incluindo folhas, ramos, brotos, caules, cascas de árvores, plantas aquáticas, além de frutos que correspondem a mais de 50% da dieta;
- A anta vive em áreas de em média 800 hectares e percorre entre 3 e 9 km/dia, levando sementes de uma área para outra.
Fonte: G1