In Sollo Indiano III

De volta a Ajmer, de trem nos deslocamos até Jodhpur, de lá, contratamos um jeep e com um motorista bilíngüe partimos para nossa viagem pelo deserto de Thar, também chamado o Grande Deserto Indiano, situado a algumas horas de Jodhpur e a poucas horas do Paquistão. Thar é um deserto com uma área de mais de 800 km de comprimento por quase 500 km de largura. O terreno é formado por colinas de areias cercadas por uma vegetação dispersa.

Nosso guia nos conduziu até onde os guardadores de camelos nos aguardavam. Havia quatro camelos, duas crianças e um adulto para nos ajudar na jornada em Thar. O dia estava nublado por isso a opção de ver a vida local durante o dia. O movimento dos camelos dava o ritmo de nossa andança e de longe podíamos avistar pequenas cabanas feitas de pedras lascadas e que tinham por cobertura uma espécie de capim, provavelmente colhido nos arredores. Também nas pequenas comunidades por onde passávamos, podíamos ver que os camelos além de meio de transporte de pessoas, também transportavam cargas.

A cada três ou quatro quilômetros podíamos avistar bebedouros para os camelos e também era o local onde os habitantes do deserto se abasteciam de água do canal. O pastoreio de cabras parecia ser a principal atividade dos povos do deserto. No Rajastão, as mulheres casadas, trazem sempre a face coberta pelo véu do seu saree. Essa é uma das formas mais fácil de distinguir as solteiras das casadas. Os homens casados não trazem aparentemente nenhum distinção que os diferenciem dos homens solteiros.

À noite no deserto é de uma beleza inexplicável, é como ver o céu e a terra se unindo em um mesmo cenário. Os tons das nuvens passavam de branco a chumbo e depois a vermelho, numa mistura de matizes jamais visto por nós nas cidades. Jantamos no deserto.

Retornando a Jodhpur, na noite seguinte, presenciamos um séquito que seguia para um casamento. A noiva ia montada em um cavalo todo enfeitado, ia descalça e com o rosto todo coberto por uma cortina de flores. Como os casamentos são arranjados, provavelmente naquela noite, seria a que ela veria pela primeira vez, a face daquele que escolheram para seu marido. Os pais da noiva, ao entregar a filha ao casamento, também entregavam ao noivo, o dote que acompanharia a filha.

Na Índia, os casamentos são arranjados tendo como foco principal ainda, o dote da noiva. Os pais devem dar a melhor educação possível às filhas, a fim de que com isso elas consigam um bom casamento. E para que a filha se torne atrativa, não se olha apenas a beleza do físico perfeito, mas também, o quanto de valor financeiro a noiva levará para a família do noivo.

A procissão comemorava. A nós veio um sentimento de beleza e tristeza, porque não parecia haver alegria no caminhar da noiva. Talvez tudo fosse somente impressão de nossos instintos ocidentais de liberdade. Talvez a noiva estivesse realmente radiante por estar em seu paispagando para que um homem a aceitasse por esposa e lhe desse seu nome. Sim, exatamente assim. As mulheres passam a adicionar ao seu nome, não apenas o sobrenome do futuro esposo, mas o nome completo dele.

Despedíamos-nos de Jodhpur tendo a noiva como nossa última imagem, e ao fundo, sob os efeitos da lua, o Forte Meranghar.

No dia seguinte partiríamos para Udaipur, Mumbai e de lá, voltaríamos a pisar in sollo portossegurense…. Pátria Amada Brasil!

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