Passados dois anos desde o início da pandemia, a Covid-19 deixou de ser a principal causa de mortes no Brasil, em meio a uma queda significativa da mortalidade. Infarto e AVC (acidente vascular cerebral) voltaram a ser as causas mais comuns de óbito.
O Brasil registrou queda de 60,4% na média móvel de mortes por Covid-19 desde o pico das ocorrências causadas pela variante Ômicron. O recuo foi de uma média de 895,36 óbitos, em 18 de fevereiro deste ano, para uma média de 354,3, na última segunda-feira (21), segundo o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Conforme dados do Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil, na semana de 16 a 22 de março, os AVCs, ou derrames, causaram 843 mortes no país, o dobro dos registros de óbitos por Covid-19, que ficaram em 421.
As mortes pela doença causada pelo coronavírus também foram superadas pelos 782 óbitos causados pelos infartos. Desde a semana de 16 a 22 de janeiro, quando foram contabilizados 1.976 óbitos, a Covid vinha liderando o ranking de mortes.
Na época, o Brasil vivia o ápice da terceira onda, causada pela forte circulação da variante Ômicron e pelos efeitos das festas de fim de ano. O pico foi de 30 de janeiro a 5 de fevereiro, quando 6.641 morreram de Covid-19.
No acumulado deste mês de março, até o dia 22, a Covid-19 também aparece em terceiro lugar, com 3.549 registros oficiais de óbitos, atrás do AVC, com 4.453, e do infarto, com 4.157.
Desde abril de 2020, esta é a segunda vez que a Covid-19 sai do topo do ranking de fatalidade por doença. A anterior foi no período de 17 de outubro de 2021 a 15 de janeiro deste ano.
Os dados foram computados com base na data do óbito constante no registro em cartório, por isso os números podem ser diferentes daqueles apurados pelo consórcio de veículos de comunicação, do qual o Estadão faz parte, e daquele apontado nos boletins do Ministério da Saúde.
Segundo os dados do ministério, houve queda de 77,7% na média móvel de casos desde o dia 5 de fevereiro, quando a pandemia atingiu a máxima histórica no número de casos, registrando média de 183 mil.
Conforme a pasta, a queda se deve principalmente à ampla campanha de vacinação contra a Covid-19, que fez o imunizante chegar a 91,38% da população acima de 12 anos com a primeira dose e a 85,35% desse mesmo público com a segunda aplicação ou dose única.
“O Ministério orienta que os brasileiros tomem a dose de reforço. Pesquisa da Universidade de Oxford indica que isso aumenta em até cem vezes a imunidade contra a doença”, disse.
Até o momento, segundo a pasta, 41% do público tomou o reforço. Segundo levantamento da Secovid (Secretaria de Enfrentamento à Pandemia da Covid-19) do Ministério da Saúde, 59,4 milhões de brasileiros estão prontos para receber a dose de reforço mas ainda não voltaram aos postos de vacinação.
A mesma pesquisa revela que a complementação do esquema vacinal está pendente para 17,6 milhões de pessoas, que só receberam a primeira dose.
A infectologista Raquel Stucchi atribuiu a melhora significativa nos índices de disseminação da Covid-19 ao avanço da vacinação, mas disse que ainda é cedo para decretar o fim da pandemia.
“São os efeitos principalmente da terceira dose para todos acima de 18 anos e quarta dose para os idosos, além do período de término da variante Ômicron original (BA.1). Precisamos aguardar para ver se a Ômicron BA.2 aumentará a circulação aqui como aconteceu na Europa. A expectativa é que essa variante possa ser responsável por uma nova onda de casos, por isso temos de aguardar”, disse.
Ela lembrou que as coberturas vacinais, não só no Brasil, como no mundo todo, não dão uma boa margem de segurança quanto às novas variantes.
“Além disso, estamos com dificuldade, em muitos locais, com a vacinação em crianças e com a adesão dos menores de 50 anos à terceira dose. Isso faz com que a gente possa manter a circulação de novas variantes”, disse.
Segundo ela, é preciso fomentar a vacinação das crianças, a terceira dose de todos de 18 anos ou mais, e a quarta dose, ou a primeira dose de 2022, para todos os idosos do país, a fim de evitar que a BA.2 comece a predominar.
“Também é necessário incorporarmos ao SUS [Sistema Único de Saúde] algumas medicações já aprovadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] que permitem uma diminuição do risco de evolução de formas graves da Covid para aquelas populações que sabidamente respondem mal à vacina, que são os idosos e os imunodeprimidos”, afirmou.
Fonte: R7