Incompreensível

“Voltando pela terceira vez, ele lhes disse: Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.” (Marcos 14.41)

A fé cristã desenha perspectivas chocantes da vida. As muitas religiões convergem sempre para a busca de uma solução, uma fórmula que coloque no lugar certo o que está no lugar errado, que harmonize, devolva o controle e faça a vida seguir um curso que nos pareça adequado ou razoável. No cristianismo somos chamados a crer em meio ao caos, num mundo sem garantias. Em que boas pessoas sofrem e canalhas desfrutam. A fé cristã nos apresenta Deus, mas não O coloca em nossas mãos! Ele não corresponde à nossa lógica e nem se dispõe a cumprir as condições que aumentariam Suas chances de ser crido pelos homens.

Portanto, se buscarmos o cristianismo como uma fonte de recursos para fazer nossa vida dar certo e realizar nossos sonhos com a ajuda de Deus, temos grandes chances de nos frustrar. Jesus, na noite que antecedeu sua crucificação, não teve direito à realização de seus desejos, como se faz com os que estão no corredor da morte. Em seu corredor, levando consigo nossas culpas e pecados, Jesus precisou suportar o silêncio do Pai e o abandono de Seus discípulos. Por três vezes orou ao Pai, sem resposta. Por três vezes pediu a seus amigos que orassem por ele, sem sucesso. Ficou sozinho e o tempo acabou. A vida e martírio de Jesus revelam o desacerto de um mundo em que o pecado abundou.

Se alguém quiser me seguir, disse Jesus, tome a sua cruz. Foi o que Jesus fez naquela noite: submeteu-se ao Pai e amou seus discípulos. Diante do Pai que o poderia livrar, aceitou não ser poupado, cumprindo um propósito para além do tempo, eterno, de outro plano e dimensão. Diante dos amigos infiéis, os amou até o fim, sendo tudo para eles sem que pedissem, quando eles não puderam ser apenas seus companheiros de oração, quando Ele tanto precisou. Assim é a dinâmica da espiritualidade cristã. Deus age em questões sobre as quais sequer saberíamos pedir. E nós ficamos nos debatendo, esperando que Ele faça “o nosso jogo” e corresponda a nossas expectativas. Conhece Sua Graça quem crê e pela fé reorganiza sua lógica, confiando nos designíos incompreensíveis de Deus.

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