O bairro era uma desventura, mato nas calçadas, lixo, cães soltos, um ou outro maloqueiro vadiando a porta de quitandas miseráveis. As casas sujas, muitas riscadas com letra de carvão. Alguns mendigos, crianças barrigudas, e amarelas.
Descobri que o sonho de partir, de imigrar para os Estados Unidos, chega mais rápido para esses lugares submersos onde o olhar fica perdido no nada.
Suspirou e o suspiro foi se estendendo. Ah, bem sei, estamos vivendo tempos inquietos e não faz mal que soprem ventos inquietantes.
Tudo ia acontecer como ela previra, tudo ia se desenrolar com a naturalidade do inevitável. trabalhar e ganhar bem . A brasileira Lenilda dos Santos, que foi encontrada morta nesta semana em uma área de deserto nos EUA, morreu procurando estabilidade financeira no silêncio do deserto.
A ideia tinha um brilho saudável e sedutor quando pensada durante está crise que vivemos com tantos desempregados. Ela imaginava respirar o ar da América, mas foi surpreendida pela esmagadora vastidão do deserto, com calor de 36 graus.
O suficiente para morrer ali. Olhar para fora e não ver uma alma viva entre si e o horizonte foi estranho e alarmante.
O Brasil tem vários dramas, desemprego, violência, miséria e educação precária e o tempo esta passando. Laços de sangue são bem inúteis para manter os brasileiros longe do Eldorado Americano.
Ela deixou duas filhas, uma grávida, todas elas ficaram à deriva. Sem âncora, sem nada que as impedisse de flutuar cada vez mais longe do mundo ideal. A chama da brasileira lutando por dias melhores se apagau por completo, e tudo o que resta é revirar as cinzas. Porque temos sempre a ilusão de que aqui as coisas vão melhorar.
João Misael Tavares Lantyer