Itabuna: Hospital de Base pede socorro

*Pedro Ivo Rodrigues/Jadilson Moraes

Embora atenda 122 municípios, das regiões Macro Sul, Macro Extremo Sul e Centro-Oeste da Bahia, o Hospital de Base de Itabuna carece de recursos financeiros para prestar os seus serviços, tendo em vista que faltam medicamentos, equipamentos e materiais necessários às suas funções. O prédio, inaugurado há 14 anos, precisa de uma ampla reforma, já que telhas estão quebradas, facilitando a infiltração da água das chuvas e banheiros estão com o piso incompleto. Além disso, há problemas na parte elétrica e outros de infra-estrutura.

O HBLEM é o hospital referencia em Trauma e em neurologia/neurocirurgia de alta complexidade, ortopedia, cirurgias gerais, com um grande pronto-socorro, aberto 24 horas por dia. A sua equipe é composta por: 65 médicos, 79 enfermeiros, 144 técnicos de enfermagem, quatro nutricionistas, 04 fisioterapeutas e 02 farmacêuticos. Agregado ao pessoal dos setores administrativos e de nível médio há um total de 614 funcionários, exceto os médicos. Trata-se de um hospital escola, que possui cinco convênios assinados e três em andamento, com 116 estagiários por dia e 10 estudantes de medicina fixos

Mais de 50% dos municípios atendidos não são pactuados com Itabuna, não contribuindo para o setor, que se encontra deficitário.

Visita do secretário estadual de Saúde

A gestora, Gilnay Cunha Santana, afirma que durante recente visita do secretário estadual de Saúde, Jorge Solla, as equipes que compõem o hospital pediram socorro. “A população precisa ser conscientizada da importância do resgate da unidade”, enfatizou Gilnay, que é pedagoga por formação, mas atua na área de administração há 35 anos, além de ter feito psicanálise. Ela também dirigiu o hospital de Ibicuí e exerceu o cargo de secretária de Saúde daquele município. Santana foi convidada pelo secretário Geraldo Magela e pelo prefeito de Itabuna, Capitão Azevedo, para gerir o HBLEM, assumindo as suas funções no dia 02 de maio deste ano.

“O secretário de saúde do estado da BA, Jorge Solla, disse que o repasse financeiro da nova proposta de contratualização do HBLEM aumentou para R$ 2.000.000,00, dando a entender que o valor fixo foi de R$ 1.500.000,00 para o valor anunciado, mas não é bem assim; o valor fixo da nova proposta continua a mesma R$ 1.500.000,00, o que mudou foi o novo teto para os procedimentos de alta complexidade, que o HBLEM recebe por produtividade, esses procedimentos como o de neurocirurgia tiveram um novo teto, assim como houve a proposta de nova habilitação com as cirurgias bariátricas, e exames como mamografia, todos esses exames e novos tetos de procedimentos citados subiram para o valor de até 465.000,00, isso que dizer que receberemos por produtividade até esse valor mencionado. O Estado gere os nossos recursos de media e alta complexidade e dos municípios que pactuaram com Itabuna, entretanto estamos há quatro anos sem reajustes”, declarou a gestora, salientando que o Hospital de Base é o único de Itabuna que tem Pronto Socorro literalmente aberto, sem nenhum tipo de regulação, recebendo todos os casos, tantos os de procedimentos habilitados como os de procedimentos em que não temos habilitação, assim como recebemos de pacientes de todos os municipios.

Segundo a gestora, o secretário Solla deixou claro na sua fala que o desejo dele é estadualizar a unidade. “O Hospital é uma fundação pública municipal, com um presidente, uma gestora e um diretor técnico, a proposta do estado não é estadualização, é terceirização, ele quer tomar a gestão do hospital por 10 anos e entregar para uma empresa terceirizada. Não houve sensibilidade da parte dele para atender a todos os hospitais de forma justa”, protestou.

Deficiências

De acordo com Gilnay, o paciente que sofre infarto do miocárdio não consegue atendimento no hospital que tem habilitação para cardiologia de alta complexidade, como é o caso da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, que não tem nem leitos de CTI para a demanda, hoje essa Instituição opera com 03 leitos de CTI para SUS, e tem habilitação para cardiologia, neurologia, nefrologia, oncologia, procedimentos esses em alta complexidade. Como o estado pode ofertar tantas habilitações de alta complexidade para um hospital que só possui 03 leitos de CTI para SUS? Quantas transferências solicitadas por esta Instituição para a nossa CTI já houve esse ano, para pacientes infartados? As pessoas precisam ter ciência que o HBLEM não tem habilitação para cardiologia em alta complexidade! O HBLEM, não dispõe de estrutura para esse tipo de emergência, não é habilitado para tal e não recebe recursos para isso. “Pelos nossos corredores se vê pessoas com problemas renais e oncológicos. “Se tivéssemos uma verba de R$ 5 milhões, por exemplo, poderíamos prestar serviços de excelência. Contudo estamos com dificuldades, não temos lençóis suficientes, aparelhos e equipamentos estão quebrados, sem recursos para serem restaurados, precisamos de colchões; faltam bebedouros nas enfermarias; camas estão danificadas; o prédio precisando de pintura; banheiros entupidos; telhas quebradas”, disse, salientando: “Quando cai uma chuva forte, o hospital fica cheio de poças de água. Uma situação hiper-precária. “Tivemos que alugar um gerador de energia até que seja consertado o nosso, pois só temos um gerador. Precisamos de recursos para solucionarmos essas pendências e ofertarmos um serviço de maior qualidade, só que para isso precisamos do aumento do valor fixo da contratualização para podermos continuar atendendo aos 122 municípios.

Possuímos 188 leitos, nove leitos na UTI, com condições de ampliar com mais nove, fora as macas que ficam no corredor, com uma ocupação de 100%, todo mundo é atendido, mesmo naquilo que nós não temos adequação para fazer, como na parte de cardiologia de alta complexidade, nefrologia e oncologia. Ninguém fica do lado de fora, todos são acolhidos e se não o fossem, o que seriam desses pacientes? Estariam a deriva, porque temos o acompanhamento mensal das solicitações de transferência para a central de leitos do estado e para a santa casa de Itabuna e vocês precisam ver a demora, pacientes chegam a pedir alta ou vão a óbito aguardando a transferência”, explanou.

“A população precisa se unir, inclusive em campanhas, para resgatar esse patrimônio que é tão importante para a população que necessita do SUS”, frisou.

Ela informou que no mês passado, o HBLEM recebeu R$ 300 mil para a compra de medicamentos, porque estava sem recursos. “Alguns pacientes chegam a custar mais de R$ 11 mil por cirurgia, com Orteses/Proteses que o SUS não paga e o HBLEM tem que arcar, como aconteceu com um morador de rua. Fazemos um trabalho humanizado, sem nenhuma discriminação”, ressaltou.

Interesses políticos

A coordenadora de auditoria, Ana Maria Brito, considera que questões de ordem política não podem estar interferindo em todo o processo. “O que é triste é que vidas são usadas para se fazer política. Por essa ótica, quanto pior, melhor. Pessoas vão morrendo todos os dias por conta de política. Percebemos que muitos hospitais estaduais optaram pela municipalização. Por que apenas este o secretário tem interesse em terceirizar, porque infelizmente não é estadualizaçao?”, indagou Ana Maria, que é enfermeira, pós-graduada em auditória e em saúde pública, habilitada como sanitarista e especializada em saúde do trabalhador.

“Este hospital é para as pessoas que não podem pagar um plano de saúde. Está a serviço do povo e o povo deve reivindicar os seus direitos. A questão da visita do secretário deixou toda a nossa equipe muito indignada, devido a sua falta de sensibilidade para com um hospital que atende 122 municípios, pela sua prioridade ao hospital filantrópico em detrimento ao publico”, afirmou, ressaltando: “Eu, o Leopoldo e o Dr. Pacheco assumimos nossos cargos há poucos dias e agora estamos tentando organizar toda essa situação. Chegou à hora de abrir a boca e mostrar ao povo a realidade dos fatos! Eles são os mais interessados, eles precisam exigir atendimento adequado, nos hospitais que estão credenciados e habilitados para ofertar a resolutividade dos seus problemas de saúde, e não crucificar um por todos os infortuítos. Esperamos contar com o apoio dos empresários e de todos que possam ajudar”, finalizou.

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