Pelo menos três jovens desenvolveram a síndrome de Guillain-Barré, conhecida também como polirradiculoneurite aguda, depois de terem recebido doses da vacina contra o vírus Influenza A (H1N1). Os três jovens acometidos já estão em tratamento, entre eles há uma adolescente de Teixeira de Freitas-BA, uma mulher também de Teixeira de Freitas-BA e um homem de Itamaraju-BA.
A forma abrupta com que a pandemia causada pelo vírus Influenza A (H1N1) se instalou em 2009, associada à capacidade de transmissão do agente, constituiu um grande desafio para o setor da saúde. Somente a Vigilância Epidemiológica de Teixeira de Freitas notificou trinta e um casos de contaminação por H1N1, sendo cinco confirmados e quatro ainda em andamento, aguardando os resultados. Destes casos, quatro eram de pacientes de municípios vizinhos, como: Nova Viçosa (um), Mucuri (um) e Alcobaça (dois). Dos cinco casos já confirmados, um evoluiu para o óbito.
Essa situação epidemiológica da H1N1 exigiu, além das medidas de precaução, que fossem adotadas medidas de vacinação. Em pouco tempo a vacina foi desenvolvida e um calendário nacional elaborado. A campanha de vacinação contou com forte apelo publicitário. E, na região Extremo Sul da Bahia, pelo menos três pessoas desenvolveram, como consequência da vacinação, a síndrome de Guillain-Barré.
A Guillain-Barré ou polirradiculoneurite aguda é um distúrbio dos nervos periféricos que paralisa os membros, o pescoço e até mesmo os músculos respiratórios. Afeta o corpo de forma ascendente, ou seja, de baixo para cima. Trata-se de uma doença autoimune, em que o doente passa a desenvolver anticorpos contra a mielina, que é uma camada de lipídeos e proteína que reveste os nervos. Esta síndrome pode ser desencadeada por qualquer tipo de vacina viral, ou ainda por determinadas infecções. Em Teixeira de Freitas existe um relato atual de uma jovem que foi acometida pela doença depois de um quadro de dengue.
Casos
O primeiro caso confirmado da síndrome na região foi o da acadêmica de Direito, Rivana Ribeiro, 31 anos. Ela desenvolveu a doença em maio deste ano, sendo que os primeiros indícios da paralisação ocorreram quatro dias após a vacinação. Depois dos primeiros sintomas, Rivana foi transferida para Colatina-ES e lá recebeu o diagnóstico da doença. Ela conta que só ficou ciente do caso quando a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, junto com o Ministério da Saúde, fizeram uma visita a ela no Hospital, explicando o que era a doença e como ela poderia ser adquirida. Por ter plano de saúde, Rivana, no início procurou um Hospital particular de Teixeira de Freitas, mas por falta de recursos do Hospital para o diagnóstico acabou transferida.
Ainda no Hospital capixaba, a acadêmica foi informada de que se tratava de um caso raro e, segundo ela, a Secretaria de Saúde do Espírito Santo se comprometeu em avisar a Secretaria de Saúde da Bahia. Em Teixeira de Freitas, ela foi procurada cerca de um mês depois. Rivana alega que a Secretaria de Saúde local foi notificada ainda no mês de maio.
“Por ter plano de saúde não senti necessidade de procurar o órgão, minha preocupação e a preocupação do pessoal da Secretaria de Saúde, era o fato de a vacina ter provocado isso, o órgão tinha que ficar ciente disso”, desabafou Rivana. Ela diz ter buscado da Secretaria de Saúde local apenas um transporte que viabilizasse suas idas até a clínica de fisioterapia onde faz o tratamento. Ainda de acordo com Rivana, sua necessidade foi suprida com o auxílio de uma pessoa que tomou conhecimento da situação em que ela estava. Rivana Ribeiro teve os quatro membros afetados pela paralisação, ainda no Hospital começou a recuperar o movimento dos braços e somente agora começa a retomar os primeiros movimentos das pernas. Ela ainda depende de cadeira de rodas ou muletas para se locomover. “É uma irresponsabilidade uma vacina tão nova esta à solta, somos cobaias na mão de uma vacina”, disparou a acadêmica. Durante sete dias, Rivana foi medicada com a administração intravenosa de imunoglobulinas, sendo cinco frascos ao dia.
O outro caso de Guillain-Barré consequente da vacinação contra H1N1 em Teixeira de Freitas é o da jovem estudante Ana Caroline, 16 anos. A mãe da adolescente, Tânia da Silva Reis, diz que a família está custeando o tratamento e, mesmo com o plano de saúde, que cobre as principais despesas, cerca de R$ 30 mil já foram gastos. Ana Caroline, a Carol, foi vacinada em 02 de junho deste ano. Poucos dias depois iniciaram os primeiros sintomas, como cefaléias e náuseas, e em 11 de junho ela passou a sentir dificuldades para se locomover.
Como Carol apresenta um quadro de baixa imunidade, a mãe, primeiramente, suspeitou que a fraqueza descrita pela filha fosse mais um quadro de anemia, entretanto, os exames eliminaram essa possibilidade. Somente depois de consultar um neurologista, foi feito o exame de pulsão lombar que diagnosticou a síndrome.
Tânia, mãe de Carol, conta que logo que a vacina foi lançada, houve na mídia a divulgação de vacinas pagas, ela diz que foi aconselhada por um médico a pagar e vacinar a menina. Com o lançamento da campanha nacional de vacinação, Carol foi até um posto de saúde, explicou sua situação e recebeu a dose, mesmo não constando nas faixas etárias recomendadas. Por essa razão, ela não recebeu a notificação de vacina em sua carteira e também não revela o nome de quem a vacinou, quanto ao local em que recebeu a administração, a menina alega ter esquecido. “Vamos entrar na justiça contra o Estado porque quem mais perdeu foi ela, não é questão de dinheiro”, informou a mãe da adolescente.
O vigilante Claumácio Araujo dos Santos, 35 anos, morador de Itamaraju-BA, foi imunizado e dez dias depois começou a sentir dormência nas pernas. Em 12 de junho ele foi trabalhar e começou a sentir dormência e náuseas, foi então levado ao Hospital de Itabela-BA, onde foi medicado sintomaticamente e liberado. Já em casa voltou a se sentir mal e foi para o Hospital de Itamaraju. Com o agravamento do quadro foi transferido para o Hospital Municipal de Teixeira de Freitas-BA. Claumácio não tem plano de saúde, precisou recorrer ao Sistema Único de Saúde.
Mesmo sem plano de saúde e com poucas condições financeiras, Claumácio chegou a pagar R$ 1.000,00 (um mil reais) por um exame, que foi feito em Vitória-ES, onde a família foi acolhida em casa de estranhos. A irmã de Claumácio, Elisângela, diz que o neurologista que pediu o exame ratificou no pedido que se tratava de um quadro pós vacinal H1N1.
Os irmãos retornaram de Vitória, já com o laudo médico em mãos e a indicação de tratamento por imunoglobulina. Foi então que o homem foi internado no Hospital Municipal de Teixeira de Freitas-BA. A irmã de Claumácio reclama o fato de o irmão não ter recebido a medicação prescrita e também por a Secretaria de Saúde de Itamaraju não ter sido notificada. Elisângela, tão logo retornou a Itamaraju, buscou o auxílio do Ministério Público local, que informou a Secretaria de Saúde Municipal.
Cuidados médicos e apoio público
A coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Itamaraju, Marcele Pereira Fonseca, diz que o município está tomando as devidas providências. Ela informa ainda que soube do caso de via DIRES. Marcele diz que os técnicos da Vigilância Epidemiológica acompanharão o tratamento de Claumácio, e que a Secretaria de Saúde do município disponibilizará a fisioterapia e a imunoglobulina. Em Itamaraju, foram aplicadas 13.600 doses da vacina.
A coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Teixeira de Freitas, Lívia Xavier, afirmou que não havia sido informada da passagem de Claumácio pelo Hospital Municipal da cidade. Quanto o caso de Ana Caroline, ela diz que para a Secretaria de Saúde o caso não é oficializado, pois ela não estava na faixa etária recomendada, não tem registro da vacinação e nem se conhece o lote da vacina. Lívia diz que os técnicos da Vigilância procuraram a família, mas, que não foram recebidos. “Ao esconder os dados ela acaba atrapalhando, porque nosso objetivo é investigar, é uma vacina nova, esta sendo implantada agora, o Ministério da Saúde precisa saber das reações adversas” falou Lívia acerca do caso de Carol.
No caso de Rivana, a coordenadora disse que soube do caso quando a paciente retornou de Colatina. Lívia alega que a rede privada de saúde nem sempre repassa informações de quadros como este. Como Rivana tem plano de saúde que custeia todo o tratamento, a Secretaria disponibilizou a ela somente a fisioterapia, muito embora ela também faça em clínica particular. “Nós encaminhamos ela para o Mãe Maria, lá ela tem acompanhamento de fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo, é um suporte maior do que o que ela tem na clínica particular”, informou Lívia. Em Teixeira de Freitas, foram administradas 56.597 doses da vacina contra a gripe A.
A fisioterapeuta que cuida de Rivana, Djoyce Hingrith Wagmacker Souza Lima, diz que está a dez anos em Teixeira de Freitas, e que ao longo desses anos só tratou de dois casos de Guillain-Barré e agora em poucos meses, teve conhecimento de três casos somente em Teixeira de Freitas. A fisioterapeuta diz que a paralisação conseqüente da síndrome causa enfraquecimento dos músculos por atrofia, assim, a fisioterapia se torna indispensável para o estímulo nervoso e da musculatura. Djoyce conta ainda, que a recuperação de Rivana foi impressionante, segundo ela, avanços previstos para acontecerem em seis meses, foram conseguidos em semanas. A fisioterapeuta atribiu o sucesso do tratamento à força de vontade da paciente.
O neurologista, Wellington Andrade Freitas, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, que está tratando de Ana Caroline, diz que essa síndrome pode ser desencadeada por qualquer vacina, bactérias da faringite e bactérias do estômago. No caso das vacinas, ele diz que o risco de desenvolver a Guillain-Barré é de aproximadamente um caso para um milhão de doses administradas.
Ainda de acordo com o neurologista, a síndrome, como uma possível reação adversa, está previsto pelos fabricantes, ficando poucas brechas para recursos legais. Ele salienta que o número de pessoas beneficiadas pela imunidade contra a gripe A, é infinitamente maior do que os casos que apresentaram alguma reação consequencia, portanto, ele defende que as pessoas continuem se vacinando.
Todos os técnicos em Vigilância Epidemiológica ouvidos reafirmam a importância da vacina e ensinam que aos primeiros sintomas, a primeira medida a ser adotada pelo paciente, deve ser a de retornar ao posto em que foi vacinado, para que o lote seja registrado e as Secretarias de Saúde notificadas imediatamente.
Números da Campanha Infleunza A H1N1 em Teixeira de Freitas, até 19 de julho de 2010
Grupo Prioritário
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Meta
|
Nº de Vacinados
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Cobertura
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Trabalhadores saúde
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1.631
|
2.310
|
141,63%
|
Gestantes
|
2.420
|
1.897
|
78,38%
|
Doentes Crônicos
|
13.487
|
6.886
|
51,05%
|
Crianças 6 m a 2 anos
|
3.942
|
5.238
|
132,88%
|
20 a 29 anos
|
24.613
|
20.875
|
84,81%
|
30 a 39 anos
|
18.841
|
14.814
|
78,63%
|
Crianças 2 a 5 anos
|
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|
4.577
|
134,39%
|
Fonte: Michele Ribeiro / Sulbahia News