O real apresentou as piores perdas em relação ao dólar nesta sexta-feira (23), após a moeda dos EUA disparar cerca de 2% em sua última sessão e voltar a aproximar-se do nível de R$ 5,60, fechando na casa dos R$ 5,59, insuflada por um fortalecimento global próprio e pelo avanço das taxas dos Treasuries. Houve ainda, um certo desconforto com a comunicação do Banco Central brasileiro.
Segundo matéria do InfoMoney, um dos fatores principais que levaram as perdas apresentadas pelo real ante ao dólar, foi a aparente falta de consenso dentro do Banco Central brasileiro sobre o rumo da taxa Selic uma vez que, na terça-feira (20), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que é preciso cautela em relação às expectativas de alta de juros, alimentadas em grande parte por declarações recentes do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
Apesar da maioria dos analistas atribuírem parte da apreciação recente do real justamente ao tom mais duro de Galípolo, que ampliou as apostas tanto de investidores quanto de uma ala de economistas em alta da taxa Selic ainda em setembro, o diretor afirma que “discorda que suas frases recentes colocaram o BC no corner”, ou seja, obrigado a subir os juros no próximo mês. Ele também negou que suas declarações representem “dissonância” com as de outros diretores do BC ou com as avaliações contidas na ata do Copom. Entretanto, ele afirmou também que “reafirma todas as suas falas nos últimos dias”, vistas pelos investidores como um sinal de alta iminente da Selic e que o “balanço de riscos assimétrico” para a inflação não está “relacionado a um guidance” para os próximos passos do Copom.
Na manhã desta sexta, o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, afirmou que o “excesso de ênfase” no balanço de risco para inflação “como instrumento de guidance” sobre a condução da política monetária causava “um pouco mais de desconforto”. E ressaltou que, entretanto, o comunicado e a ata do Copom refletem uma visão coesa dos diretores do BC.
Especialistas avaliam ainda que, uma postura coesa do Copom aumentava a credibilidade da política monetária e afastava os temores de um BC leniente com a inflação a partir de 2025, quando Campos Neto será substituído por alguém indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo Galípolo o nome mais cotado. Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, as declarações recentes de Campos Neto e dos diretores do BC não combinam com percepção anterior de que o Copom estava unido na avaliação sobre a condução da política monetária.
“Parece que tentaram engrossar o discurso para derrubar o dólar e ficaram assustados com a reação do mercado de colocar alta da Selic na curva de juros”, diz Borsoi. “O comitê parece agora não ter uma mensagem harmônica. Essa mudança é ruim e adiciona mais volatilidade”.
Ainda no fim da tarde de quinta-feira, Galípolo buscou esclarecer falas eventualmente lidas como dovish, afirmando que deu impressão equivocada ao comentar sobre ‘ganhar graus de liberdade’ e reiterou que “o BC não vai hesitar em subir juro se necessário”.
Fonte: Bahia.ba