Haddad, vice e plano B de Lula, ganha reforço de Manuela D’Ávila no último minuto

Haddad, vice e plano B de Lula, ganha reforço de Manuela D'Ávila no último minuto
Após anunciar concorrer à Presidência, Manoela desiste e faz acordo com o PT. Foto Estadão

O PT esticou até praticamente o último minuto o suspense sobre quem seria indicado a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do partido à Presidência apesar de estar preso e virtualmente impedido de concorrer por causa da Lei Ficha Limpa. A espera que entrou noite adentro no domingo não trouxe surpresas: o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ficou com a vaga e ganhou, no último suspiro do prazo legal, o apoio do PCdoB. A pré-candidata comunista Manuela D’Ávila abriu mão de sua candidatura a presidenta e será uma espécie de vice stand by – por enquanto, não tem o posto, mas uma vez definida a situação de Lula, será a companheira de chapa do próprio ex-presidente, uma possibilidade considerada remotíssima, ou de Haddad.

O anúncio foi feito, já passada a meia noite, na sede do PT, pela presidenta da sigla, Gleisi Hoffmann. Ao lado dela, Haddad fez um breve discurso agradecendo a indicação. Manuela D’Ávila não estava, mas os militantes, ensaiados, já entoavam músicas aclamando a deputada gaúcha, o ex-prefeito paulistano e Lula, preso desde abril em Curitiba. Segundo Gleisi, é Haddad quem vai representar Lula em atividades de campanha, como os debates.

Dada a situação, o ex-prefeito começa o percurso de vice, mas com o escrutínio de um cabeça de chapa – Lula lidera as intenções de voto, e o Haddad, quando posto nas simulações, não decola nas pesquisas. Se não está envolvido nos megaescândalos de corrupção que marcaram a reunião do PT, o ex-prefeito tampouco foi bem em sua última campanha: ele perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo para João Doria em 2016.

As redes sociais do partido já divulgaram imagens da dupla Lula-Haddad. Foi a explicitação do Plano B do PT: o partido vai insistir até quando possível no nome do ex-presidente, mas não deve flertar demasiado com o abismo legal, como era ventilado numa ala do partido considerada mais radical. Uma prova disso aconteceu neste próprio domingo. Enquanto na sexta Gleisi afirmava que o prazo legal para apresentar as candidaturas era dia 15 de agosto, neste domingo, mesmo reclamando publicamente, a decisão do PT foi seguir a recomendação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de apresentar as chapas até esta segunda-feira.

As negociações na reta final com o PCdoB transpareceram tensas. “Cada um tem seu jeito, sua vida. Vou sair da minha casa agora, 22h, domingo, ficar longe de meus filhos que vejo tão pouco, para uma reunião com a direção do PT. Espero que se justifique, né?”, queixou-se no Twitter Orlando Silva, integrante do PCdoB e ex-ministro de Lula, sobre as negociações neste domingo. Seja como for, o PCdoB cedeu. Após ensaiar não apoiar os petistas pela primeira vez em sete eleições, os comunistas aceitaram. Além do discurso de Manuela D’Ávila de que o partido trabalharia pela união do chamado campo progressista, pesou também o temor do PCdoB pela própria sobrevivência: as alianças regionais com o PT são importantes para ultrapassar a cláusula de barreira. Apesar da situação esdrúxula, Manuela se transforma na terceira vice mulher entre as candidaturas tidas como competitivas num momento de fortalecimento do movimento feminista no país e quando elas são a maioria do eleitorado e a maioria do contingente de indecisos neste momento.

Gosto amargo para Ciro Gomes, mas também para o PSB

Enquanto a novela PT-PCdoB se esticou até o último minuto, a do PSB encerrou-se com um gosto amargo para a sigla: nenhum partido político concluiu a sua convenção nacional tão rachado quanto os socialistas. O partido realizou sua convenção nacional e confirmou que ficará neutro no pleito, uma decisão que sufoca Ciro Gomes (PDT) e, por tabela, beneficia Geraldo Alckmin (PSDB) e o PT. Se já havia ficado isolado coma  decisão do PSB, a vitória do PT com o PCdoB fortalece a candidatura do PT, mesmo com problemas maiúsculos, como a mais competitiva no campo progressista.

O clima acirrado entre os delegados no congresso deste domingo foi um retrato das divisões internas do partido. Quando Carlos Siqueira, presidente do PSB, apresentou a proposta de neutralidade, o salão do hotel em Brasília que recebeu a reunião se dividiu entre vaias e aplausos. “Um partido sem posições diferentes é um partido autoritário”, minimizou Siqueira, logo após o encontro.

O PSB tem atualmente uma bancada de 26 deputados federais e é dono de cerca de 40 segundos no horário eleitoral. Por isso, era visto como a sigla que poderia resgatar Ciro Gomes do isolamento depois que o pedetista foi rejeitado pelo Centrão (grupo de cinco partidos políticos de centro-direita que terminaram fechando uma coligação com Alckmin). O próprio Siqueira não escondia de aliados que preferia uma aliança eleitoral com Gomes.

Prevaleceu, no entanto, a vontade dos caciques dos diretórios regionais mais importantes do PSB, entre eles Pernambuco e São Paulo. Ironicamente, o governador pernambucano, Paulo Câmara, e o paulista, Márcio França, uniram forças para beneficiar dois inimigos históricos que tinham interesse em isolar o pedetista. Câmara defendeu a neutralidade dos socialistas para atender uma demanda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cabo eleitoral praticamente imbatível em seu Estado. França, por sua vez, agiu para ajudar Alckmin, seu padrinho político e candidato à presidente da República.

A ala do PSB que defendia apoiar Ciro Gomes foi derrotada na votação deste domingo que sacramentou a neutralidade, mas as sequelas do embate ficaram evidentes. “Infelizmente a força convencional de Pernambuco e São Paulo é muito grande e a vontade dos outros Estados não foi capaz de superar essa força para defender a candidatura do Ciro Gomes”, disse o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.

Vácuo

Legenda de porte médio, o PSB perdeu em 2014 a seu principal expoente, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo. Desde então, os socialistas não conseguiram encontrar uma liderança com força para unificar as diferentes facções da sigla. Uma situação que neste ano foi agravada por outro vácuo, a desistência do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, de disputar a presidência.

Embora neófito no PSB, Barbosa aparecia nas sondagens com 10% da preferência do eleitorado e figurava como um outsider com chances reais de chegar ao Palácio do Planalto. Sua recusa em se lançar na corrida presidencial acentuou o conflito interno entre os que queriam apoiar Ciro, o PT ou mesmo Alckmin. Como não havia forma de conciliar os diferentes interesses e a neutralidade trazia algum benefício aos aliados de petistas e tucanos, venceu a tese de não realizar uma aliança no cenário nacional. “Talvez ela [a neutralidade] seja a decisão menos traumática do partido, mas de forma alguma mostra uma unidade”, avalia Marco Antônio Teixeira, professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas.

A fratura mais sentida no partido ocorreu em Minas Gerais e criou um impasse que ainda não foi solucionado. O PT havia condicionado retirar a candidatura de Marília Arraes ao Governo de Pernambuco, o que acabou acontecendo neste domingo apesar da resistência da petista, a um gesto semelhante por parte do ex-prefeito de Belo Horizonte, o socialista Márcio Lacerda, que aparecia em terceiro nas pesquisas de intenção de voto na corrida pelo comando de Minas Gerais. Lacerda, entretanto, não aceitou ser apenas uma “baixa colateral” do acerto celebrado pela cúpula do PSB. Ele realizou a reunião estadual que o oficializou candidato ao governo do Estado no sábado e entrou na convenção nacional deste domingo cobrando um preço para desistir das suas pretensões: que o PSB local não se alie formalmente ao petista Fernando Pimentel. Até esta segunda-feira, último dia que os partidos têm para comunicar a Justiça eleitoral do resultado das suas respectivas convenções, os socialistas correrão contra o tempo para tentar encontrar um arranjo em Minas que atenda os interesses do ex-prefeito de Belo Horizonte. “Eu não posso [me aliar ao PT] de jeito nenhum. Eu não vou ter os votos do PT e perco os votos que eu tenho”, justificou Lacerda.

OS CANDIDATOS E SEUS VICES

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Haddad

Ciro Gomes (PDT) e Kátia Abreu (PDT)

Geraldo Alckmin (PSDB) e Ana Amélia (PP)

Marina Silva (REDE) e Eduardo Jorge (PV)

Álvaro Dias (PODEMOS) e Paulo Rabello (PSC)

Henrique Meirelles (MDB) e Germano Rigotto (MDB)

Guilherme Boulos (PSOL) e Sonia Guajajara (PSOL)

João Amoêdo (NOVO) e Christian Lohbauer (NOVO)

Fonte: El País

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