“Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” (Mateus 5.23-24)
A fé cristã é de natureza relacional. O que significa essa afirmação? Muitas coisas. Significa que os ritos, as liturgias, não são o centro ou o ato mais importante de nossa adoração a Deus. Ritos e liturgias são apenas auxiliares. Eles devem inspirar, instruir e enfatizar o caráter verdadeiro da fé, que está no modo como nos relacionamos com Deus, conosco mesmos, com o próximo e com o mundo criado por Deus. Liturgia e ritos não são um fim em si mesmos, de modo que não realizamos a obra de Deus simplesmente por realizarmos nossas celebrações quando cantamos, oramos, pregamos e etc., pois o que fazemos no templo precisa de confirmar na vida. Realizamos a obra de Deus quando manifestamos o fruto da presença de Deus em nossa vida por meio de nossas relações, de nossas atitudes e de nossas ações.
Por isso jamais devemos esquecer que pessoas são o grande valor do Reino. Se pensarmos em fazer coisas para agradar a Deus, mas desprezarmos pessoas, estaremos em desobediência a Deus e não poderemos agradá-lo. Veja como Jesus deixa isso claro para nós nos versos de hoje. Apresentar a oferta, diferente do que hoje significa, dizia respeito a adoração em si, muito mais do que apenas entregar algo. O adorador se apresentava para expressar sua adoração, seu louvor a Deus. Isso poderia envolver um bem ou um valor, que materializava a adoração do fiel. Jesus diz que essa oferta a Deus deveria vir depois da reconciliação com o irmão. Por quê? Porque a adoração a Deus pode acontecer sem a apresentação da oferta, mas não pode acontecer sem o compromisso de amar o irmão. Porque o que se pretende dizer a Deus em termos de louvor pode esperar, mas a reconciliação com o irmão não pode esperar. Tudo isso demonstra o caráter relacional de nossa fé. E é relação entre nós o que confirma a relação entre nós e Deus.
O apóstolo João escreveu que, quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor (1 Jo 4.8). Quem não ama a quem? A pessoa que não está comprometida em amar as demais pessoas não conhece a Deus. É isso que ele está dizendo. Quando tratamos com desrespeito, descaso, preconceito, quando somos opressores, quando rejeitamos a uma pessoa, seja quem for, estamos negando que amamos a Deus. Quando nossas relações são injustas, são marcadas por desamor, nosso culto no templo perde o sentido. Por isso, jamais poderemos justificar nossos preconceitos, iras e violência contra quem quer que seja, dizendo que agimos assim por zelo e amor a Deus. Porque amor a Deus determina amor ao próximo. Pois nossa fé é relacional. Por isso, sempre que for adorar a Deus orando, cantando, participando de suas atividades religiosas, procure antes responder à pergunta feita por Deus a Cain: “Onde está o seu irmão?” (Gn 4.9). E se for preciso e possível, deixe a sua oferta esperando e vá reconciliar-se, porque a reconciliação e o amor não podem esperar.